Quarta-feira, 21 de Agosto de 2013

O gato que vê o frio dentro das pessoas

Imagino o gato que vê o frio dentro das pessoas. Imagino que podias tocar para mim uma musica é suficiente que te esqueças das palavras e te lembres do café quente, imagino que passas na igreja e que todos os homens sabem a oração do teu corpo e o gato que eu imagino fica amigo dos ratos e não percebe os homens a comer os homens, saberá um gato o que significa capitalismo. Imagino o gato que vê o frio dentro das pessoas, imagino que podias inventar uma musica, que pudesses lançar na terra e isso seria a tua resposta quando te perguntassem como nascem as flores, imagino o gato que vê dentro das pessoas. As janelas todas fechadas e uma pessoa estranha, era como se estivesse ali o mar, uma relação intima entre a minha distancia e as coisas que não entendo, imagino que podias tocar para mim uma musica, imagino que afinal não sabes nenhuma musica nem nenhuma palavra mas que tens uma maneira de dar confiança e de compartilhar uma bebida e uma pedra para a construção de uma casa. Imagino o gato que vê o frio dentro das pessoas, imagino que passas na igreja e que todos os homens sabem a oração do teu corpo


Lobo

publicado por relogiodesacertado às 14:57
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Os ratos na toca tem filosofia

Tu não sabes mas os ratos na toca tem filosofia
não sabes mas as folhas de queijo servem para fazer livros
Tu não sabes que os gatos recitam na toca dos gatos poemas românticos
e que as noites de lua são doces e fatais.
Tu não sabes que os ratos na toca conhecem o mundo
comunicam pelos sonhos e ás vezes conhecem a eternidade
no avião barriga dos gatos.
Tu não sabes mas os ratos na toca tem filosofia
não sabes mas as folhas de queijo são partituras de opera.
Tu não sabes mas podes perguntar
na toca dos ratos há uma biblioteca
a coruja vai fazer intriga e vai confundir-te 
mas tu podes ler a filosofia na barriga insaciável de um felino.


Lobo

publicado por relogiodesacertado às 14:54
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Essa estrada

Essa estrada vai andar nos teus olhos
gente perfilada, braços levantados, armas de guerra, lojas de roupa e de perfumes, a fotografia de uma folha de outono que parece a solidao dos corpos na vala comum. 
Essa estrada, os tanques que esmagam vidas e esperanças, essa estrada vai andar nos teus olhos, vai entrar dentro da afliçao daquelas pessoas que suplicam um instante grande no estado zero do mundo.


lobo

publicado por relogiodesacertado às 14:51
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Terça-feira, 24 de Julho de 2012

...

Observo esse sinal no corpo, não há nas penas dos pássaros sinal assim tão nítido como esse que vejo, um ponto negro que o indicador leva ao umbigo geográfico das Américas. Conheço muito bem esse continente, o comboio dos livros foi essa viagem que o analfabeto não faz, conheço muito bem essa América do norte, tenho no meu quarto as revistas do tenente gatilho e do índio trovão, as revistas misturadas com os livros de filosofia. A minha religião é o bang bang , não Senhor, não faço patifarias ou pelo menos as minhas não são tão grandes como as dos modernos soldados do império de Bruxelas. Observo esse sinal no corpo, parece um sinal luminoso, apetece soprar e ver mexer assim as asas de um insecto. Tens um ponto final e é assim o final das ovelhas, dos vitelos, dos condenados á pena de morte. A América do norte é a terra prometida, prometeram-te ouro e planícies verdejantes, o lugar das oportunidades e tu tinhas que saber domar a cavalgadura do mundo. A América do norte entrou-te no quarto na forma cinematográfica, sentado na poltrona esburacada estava o matador de índios. A espingarda do matador de índios disparava frases de circunstancia 
-Tem um cigarro
-Tenho cigarros sem filtro
-Antigamente podíamos fumar na sala de cinema
- Isso era no tempo velho, um tempo de lentidão esse
-Até as crianças demoravam mais a crescer
- Sou o homem das vacas não sou um educador de infância
- O velho oeste não tem educadores
- Tem educadores que ensinam os filhos a falar a linguagem das vacas tresmalhadas.
- Como veio até aqui?
- Havia um buraco no lençol
- Que lençol é esse?
- O lençol dos sinais de fumo.
- Entrou então pelo buraco do lençol?
- Sim e como devia ter entrado?
- Por aquela janela!
- Custa-me a subir, á medida que a idade avança vou perdendo a agilidade.
- Não é essa a ideia que dá.
- A responsabilidade é dos duplos, eles fazem tudo.
- Sim menos as cenas de amor.
- Os filhos do meu vizinho não são filhos do meu vizinho.
- Quer dizer que foi um duplo?
- Foram muitos duplos, talvez múltiplos.
- Onde está o seu cavalo?
- Está a dormir, são muitas horas a galope.

continua

publicado por relogiodesacertado às 00:54
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Domingo, 1 de Julho de 2012

...

Há quem escute as vozes dos mortos na água do rio. Alguns dias depois de ela ter morrido eu ouvia vozes, o andar da água debaixo da terra e me lembrava dizer que ela tinha essa voz que também o vento tem quando passa na copa das árvores, quando lembra o viajante secreto a percorrer o quarto dos comboios onde ainda imagino que os mortos dormem.
São 4 horas da manhã, antes de passar no instituto de ...oncologia fui pagar umas contas, antes passei numa retrosaria, havia uns lenços bordados, penso que ela ia gostar de assoar o nariz aqueles lenços de linho, a Senhora da loja referiu que tinham sido bordados por uma tecedeira do minho, aqueles lenços parecia que cheiravam... ela deitada na cama exclamava que os lenços tinham um cheiro que lembrava o cheiro de alfazema. Eu ficava ali a pensar nela e naquele lugar, a ver o rio assim um velho doente desejoso de chocolates. Perguntava como se sentia, ela olhava o lenço e não dizia nada e depois eu convencia-me que as minhas perguntas eram inuteis, segurava o pulso dela, isso também fiz no dia em que ela estava a morrer, segurei-lhe a mão, parecia segurar as patas de um pássaro que não queremos que voe, eu não queria que o pássaro dentro dela voasse, eu não lhe queria permitir essa liberdade, o amor que eu tinha por ela era a bomba mais potente que ia fazer explodir as palavras, as palavras mais dificeis são aquelas que fazem falar as coisas mudas dentro de cada um. Aquela bomba ia projectar sentimentos que eu não sabia até onde iriam, não sabia até onde iriam, não sabia nada que fosse suficiente e depois de ela ter morrido não consigo preencher página nenhuma. Há dias voltei aquela loja dos lenços que imaginariamente cheiravam a alfazema, a luz do sol aviva as cores do vitral situado por cima da porta da entrada. Nunca me ocorreu falar-lhe deste vitral, as minhas conversas eram muitas vezes vazias, ela perguntava pelas crianças, as crianças estavam com os avós, eu trabalhava muitas horas, tinha de pagar as contas e depois parece que não ficava nada nem um pássaro no céu. Estava previsto que ela ia para casa acabar os dias,uma semana antes o pano se fechava, a equipa médica telefonava com urgencia como se o momento da morte fosse tão decisivo  como o momento em que se nasce. Eu estava vazio dentro do quarto e o quarto vazio dentro de mim, aquele era um dia de sol mas eu preferia que fosse uma tarde  de chuva ia conseguir ficar triste, nestas ocasiões fico frio, tenho de ouvir uma canção ou lembrar momentos muito antigos ou inventar um drama de um estranho... as minhas lagrimas pareciam ter secado, precisava meter a mao no fundo do meu poço e extrair a agua que comove, ela comovia-me por toda a vida que eu acreditava existir dentro dela, nem sempre reparava nisso, ficava muito tempo na imobiliaria, ficava com pouco tempo para viver as coisas que queria e as coisas que gostava, a morte dela parecia dizer-me que nao valia nada a vida que estava a viver, as contas que se pagam nao pagam o verdadeiro sentido que devia ser uma felicidade propria, nao o plano que foi preparado para nos oferecer um conforto que se ira transformar na condiçao mais incomoda das nossas vidas. No dia do funeral alem dos meus filhos e do meu pai estava tambem o meu chefe, cumprimentou-me - as minhas condolencias disse ele acrescentando depois que podia ficar uns dias em casa, ele ja tinha passado um momento assim com a morte de uma pessoa da familia, se precisa-se de alguma coisa...
publicado por relogiodesacertado às 17:19
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Terça-feira, 29 de Maio de 2012

...

–        Le farebbe bene.

–        Dice?!

–         Dicono che la frutta faccia bene alla digestione e ai litigi d’amore.

–         Signora, lei è una strega, legge nella frutta?

–        Lei ha bevuto…

–        Sì.

–        Guardi che la frutta le fa bene.

–        È vero, certe volte la provo.

–        La prova?

–        Sì, grappa alla mela, al fico, alla pera.

–        Lei è molto simpatico.

–        Signora, posso farle una domanda?

–        Mi dica.

–        Cosa sa lei di quella storia della donna stuprata.

–        Poveretta, quando l’hanno trovata aveva gli occhi bianchi come la neve.

–        E ha qualche idea su chi possa averla uccisa?

–        Io avevo la mia teoria, poi però è diventato tutto una cosa dell’altro mondo.

–        Si spieghi meglio!

–        Non so che cosa potrei spiegare meglio, molte spiegazioni si trovano nei libri e nelle telenovelas e io so leggere male, la polizia aveva detto che sospettava di un tipo grasso, l’ispettore aveva detto ai giornali che un poliziotto grasso era venuto dall’inferno ed aveva confessato il crimine.

–        E cos’è successo?

–        Non hanno permesso lui di continuare a investigare, hanno detto che aveva problemi alla testa.

–        Problemi alla testa?!

–        Credevano che non ci fosse tutto.

–        Lei conosceva l’ispettore?

–        Era un uomo meraviglioso, mi faceva sempre i complimenti per il mio baccalà.

–        Poi qualche mese dopo è morto.

–        Sì.

–        E che cosa mi dice del fratello della donna?

–        Penso che sia sprecato per quel che fa.

–        In che senso?

–        Un ragazzo così bello, capisce?

–        Cerco di capire. Perché crede che abbiano ucciso sua sorella?

–        Che ne so! Oggi come oggi si uccide per qualsiasi cosa e per niente si muore. Guardi, forse è stato qualcuno che odia i finocchi.

–        Lei signora odia i finocchi?

–        Sono figli di Dio, e fino a quando comprano la frutta da me, io non mi lamento.

Erano già passati diversi giorni da quando Cristina se ne era andata di casa. Ieri finalmente ho ricevuto un messaggio in segreteria che mi chiedeva di chiamarla e l’ho chiamata, chiedendo alla centralinista dell’hotel che mi passasse la camera 18.

–        Ciao, dice lei.

–        Ciao, rispondo io scandendo timidamente le parole.

–        Come stai? il suo tono di voce era preoccupato.

–        Normale.

–        Hai mangiato bene?

–        Credo di sì.

–        Senti, ho parlato con un dottore, un mio amico.

–        Sì!

–        Penso che dovresti curarti.

–        Davvero?

–        Lo dovresti sapere tu.

–        Sono confuso.

–        E allora?!

–        In casa non riesco a organizzarmi, da quando te ne sei andata, è un casino, sarebbe stato più facile sprofondare in un abisso.

–        Allora, vuoi essere ricoverato?

–        Va bene!

–        Quel mio amico dottore mi ha detto che potresti essere ricoverato ad aprile.

–        Va bene.

–        Hai bisogno di qualcosa?

–        Credo di no.

–        Ti amo.

–        Anch’io ti amo.

Saliamo un attimo in cielo per vedere che cosa succede lassù. Il factotum è seduto sul suo cuscino bianco. Mette i suoi occhiali di tartaruga, non perché non veda bene, ma perché danno lui un’aria da seduttore; la seduzione è il nuovo comandamento del secolo, una tecnica usata da Belzebù sin dal principio per indurre le anime alla perdizione del piacere. Ora pare che il factotum abbia deciso di ascoltare l’angelo della rivoluzione, l’unico che ha un sesso e che odora di un incenso strano. Factotum ha contrattato degli assessori all’immagine, designer grafici, agenzie pubblicitarie e un grande comizio sul cui cartellone sarà rappresentata la donna con lo sperma sugli occhi. Chiamare le anime oggi non è facile come ai tempi dell’altra signora, la vergine del fascismo. Il cielo ha aperto le porte alla televisione privata, il creatore sa che può contare con l’uomo con la cravatta, vittima di una zuffa scoppiata in un mercato del Nord, era un’anima beata e devota alla madonna della manipolazione delle masse. Ora vi racconto che mentre qualcuno è ricoverato per sottoporsi a una delle tante cure contro l’alcolismo già testate, mentre il cielo si agita come una tempesta in un barattolo, il poliziotto grasso come remissione dai suoi crimini sta pulendo i cessi dell’inferno, noi sappiamo che la distanza tra il cielo e l’inferno è pressappoco come quella tra il Portogallo e la Spagna. Alla domanda su che cosa sia il cielo e cosa invece l’inferno non so rispondere, ma stavo parlando del poliziotto grasso e dei cessi dell’inferno per mettervi al corrente della grave situazione delle fognature dell’inferno, che aveva di conseguenza provocato odori sgradevoli che arrivavano sino alla casa del factotum. Intanto nell’ospedale in cui è ricoverato lo scrittore e ora anche detective, su richiesta del fratello della donna trovata con dello sperma sugli occhi, nel corridoio del pronto soccorso sta passando con il codice rosso e coperto da un lenzuolo bianco António Manuel, di professione idraulico, vaccinato per la malattia da latte e specializzato in vini nazionali e stranieri. Erano le tre di notte quando un uomo, sui 55 anni, vestito da scimmia e con una scatola degli attrezzi, si trovava alle porte del cielo. Batte alla porta.

–        Sì?.

–        Sono venuto ad aggiustare una tubatura.

–        Non è qua.

–        E allora dov’è?

–        All’inferno.

–        Posso parlare con qualcuno?

–        Aspetti un attimo! Factotum, qua fuori c’è un idraulico.

–        Fallo entrare.

–        Entri, seconda nuvola a destra. Disse il ragazzo che era stato investito dalle ruote di un carro di buoi.

–        Posso entrare?

–        Spinga una nuvola e si sieda.

–        Sono venuto per aggiustare una tubatura.

–        Sì, sono stato io a mandare la morte a chiamarlo, la settimana scorsa ho chiesto che mi portasse un medico, poi la donna delle pulizie ha lasciato tutto inondato dall’acqua, ma quella poveretta non ci vede bene e mi ha portato un calciatore, le ho chiesto di segnarsi una visita da un oculista, per fortuna questa volta non si è sbagliata.

–        E cos’è successo al calciatore?

–        È tornato al mondo, aveva un contratto con una squadra straniera.

–        E io che faccio?

–        Prendi questa lettera di raccomandazione, altrimenti quel cornuto pensa che ho del personale incompetente.

–        Ma dove andrò dopo?

–        Cosa ti diceva il dottore quando eri al mondo?

–        Di non bere alcol e di non mangiare cibi grassi.

–        Allora vai e poi tornerai qua.

–        E che cosa si fa in questo posto?

–        Cantiamo, leggiamo poesie e forniamo un appoggio allo studio per chi è stato vittima di insuccessi scolastici.

Torniamo a terra, là dove è ricoverato lo scrittore che ora prende anche le vesti di detective amatore alla ricerca di una soluzione per il mistero della donna trovata morta con lo sperma sugli occhi. All’ora delle visite arriva Alex, il cameriere del bar.

–        Ciao, come va?

–        Già meglio, e tu?

–        Oggi sono di festa.

–        Io invece sto facendo festa all’alcol.

–        Adesso ti devi sforzare.

–        Per vivere bisogna sforzarsi.

–        Tutto è fatto con sforzo, ma ci sono anche momenti di conforto.

–        Hai per caso una foto di tua sorella?

–        C’è lo qua nel portafogli.

–        È molto bella.

–        Tu credi in Dio?

–        Che importanza ha, ognuno di noi ha un suo Dio per le proprie convinzioni, oppure non ha né Dio né convinzioni.

–        Mia sorella aveva il sorriso di Dio.

–        Sei tu che credi che Dio abbia il sorriso di tua sorella.

–        Questa è poesia!

–        Sì.

–        Hai mai sentito parlare del poeta Alexandre?

–        Vagamente.

–        Che cosa sai di lui?

–        So che conosceva quell’ispettore e che è stato incarcerato perché accusato della morte di tua sorella.

–        Potresti parlare con lui.

–        Per dirgli cosa? All’improvviso qualcuno entra per sbaglio nella stanza.

–        Scusate si trova qua il signor…

–        Credo di conoscerla! ...

–        Sta parlando con me?!

–        Non è il poeta Alexandre?!

–        Sì e lei chi è?

–        Lavoro in quel bar vicino alla stazione.

–        Ci sono andato poche volte.

–        Quest’amico è nuovo nella via.

–        Le piace?

–        Ancora non so bene di cosa sappia.

–        Sa che esistono gusti che ci si potrebbe scrivere un libro?

–        Forse un giallo.

–        Vado a vedere se trovo il mio amico venditore di biglietti della lotteria, quando esce possiamo andare a bere qualcosa.

–        Un caffè…

–        Certo.

Lo scrittore rimase là ancora qualche giorno, Cristina era tornata di nuovo a casa e poi se ne era andata di nuovo, era riuscita a trovare lavoro come professoressa, tornava il fine settimana, lui era ingrassato un po’, sembrava che quello che toglieva di alcol lo aggiungeva di zucchero. Di notte lui le leggeva il libro che stava scrivendo, poi raccontava le novità sull’investigazione, aveva la novità di non avere novità, nonostante avesse un’ottima fonte di informazione. Una volta avevo incontrato il poeta Alexandre, durante quel periodo la mia relazione con Cristina stava passando da tiepida a fredda. Se prima la colpa era dell’alcol, ora la colpa era di quello che scrivevo e del perdere tempo a giocare ai poliziotti e ai finocchi, diceva lei. Lo sapete voi che la gelosia è irrazionale e a proposito di gelosia voglio raccontarvi una storia. Un giorno di un mese di un anno muore una giovane coppia. Il factotum li riceve, discutono ogni giorno sull’eternità, quando il cielo diventa rosso non è tramonto, è la gelosia del ragazzo che guarda la donna che ha lo sperma sugli occhi. Lui non la guarda con gli occhi dell’amore, la guarda come si guarda una cosa bella. Il factotum non sa cosa fare con quei due, vorrebbe chiedere un consiglio all’angelo della rivoluzione che, come voi sapete, è l’unico dotato di sesso e che ha un’autorevole voce in capitolo per ciò che riguarda le questioni della personalità femminile.

–        Cosa devo fare?! Dimmi!

–        Si devono lasciare.

–        Sei pazzo?

–        Sempre meglio di quest’inferno.

–        Guarda un po’. Io posso pure cedere, ma questa casa non è un albergo, e anche il cielo non è un albergo, è un modo di dire che significa…

–        Lo so cosa significa.

–        Puoi per favore togliermi da sotto il naso questo incenso schifoso.

–        È erba.

–        E dove la trovi?

–        Un sarto marocchino morto affogato in un barile di petrolio.

–        Forse è meglio se non l’accendi.

–        Che male c’è?

–        Può esplodere tutto.

–        Non c’è problema, il sarto vive all’inferno, là usano dei vecchi ferri da stiro, di quelli che funzionavano con la brace, mi ha raccontato che nelle camere c’è l’acqua calda.

–        Vorrei vedere il conto alla fine del mese! Immagino… noi usiamo l’energia solare, è stata un’idea tua, giusto? Non mi è piaciuto solamente quando hai portato quel gruppo di hippy che avevano gli occhi di chi non dorme da un’eternità.

–        Ti somigliavano un po’.

–        Davvero?

–        Pure tu non dormi.

–        Questo è ciò che sembra, dormo con un occhio aperto e una mano chiusa.

–        Un cane da guardia.

–        Molti anni di pratica.

L’ascensore delle anime sta salendo. Guarda un po’, sta arrivando un gruppo di giapponesi con le macchine fotografiche, chiedono dove sia l’inferno, vogliono un souvenir. Un giapponese è riuscito a fotografare il factotum mentre fa la pennichella. Andiamo un attimo a mettere i piedi per terra, lo scrittore su richiesta dei suoi lettori è riuscito a fare pace, o sono stati riconciliati l’uomo e la donna, Cristina e José sono stati colpiti dall’incenso dell’angelo della rivoluzione e sono di nuovo innamorati. Il poeta Alexandre sta raccontando di come aveva conosciuto l’ispettore, di quando aveva organizzato la messa per il defunto e che i pantaloni che indossava erano stati confezionati dal sarto mistico tasca scucita. Ha parlato del periodo passato in carcere e dell’ingiustizia dell’essere stato giudicato per l’apparenza. Lui non aveva idea su chi potesse essere l’assassino. Visto che sospettavano di qualcuno grasso potrebbe essere stato Pavarotti, o il poliziotto grasso che dormiva sulla porta della lavanderia, ma che interesse aveva, se ci fosse stato un colpevole di sicuro l’avrebbero saputo là nell’altro mondo.

–        Guarda, quando muoio giuro che torno qua a raccontare tutto nei minimi particolari.

-          Hai visto Alex?

-          Il cameriere del bar?

-          Sì.

-          Sembra che abbia conosciuto un australiano.

-          E che cos’è successo?

-          Sembra che l’australiano abbia una barca.

-          E allora?

-          Si sono innamorati.

-          Amare è come navigare.

-          Un attimo che chiedo un caffè.

-          Anche a me piace il caffè caldo.

-          Sei mai stato innamorato?

-          I poeti inventano l’amore.

-          E quando s’innamorano davvero?

-          Soffrono.

-          E tu riesci ad accettare che questo possa succedere?

-          Non ci penso.

-          Io sì.

-          Mi sembri preoccupato.

-          Ho paura di perderla.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

III.

Dona Alzira, sulla sua sedia a dondolo, sembrava aspettare qualcuno. Il modo in cui muoveva gli occhi lasciava intendere due cose; una è che avrebbe piovuto, l’altra era l’arrivo dell’ispettore, un tipo chiamato Vicente che veniva per cercare di sincronizzare un orologio che non funzionava da tempo. L’ispettore Vicente aveva letto la relazione lasciata dal vecchio e ormai defunto ispettore, aveva conosciuto qualche protagonista e poi aveva deciso di andare fino in Austria per sapere che cosa avrebbe pensato il dottor Sismundo di un crimine del genere e il perché dello sperma sugli occhi e non dello champagne. Sul corpo non era stato trovato dello champagne. Se ci fossero state gocce di champagne, l’ispettore avrebbe dedotto che a commettere il crimine fosse stato un conte francese ma visto che era stato trovato dello sperma, l’ispettore Vicente era arrivato a pensare che a commettere il crimine fosse stato un commerciante di prodotti hardcore. Sarebbe stato troppo presuntuoso controllare tutti i consumatori di giornali e riviste porno. Mentre la signora Alzira si dondolava sulla sedia e nei suoi pensieri, suona il campanello.

–Buongiorno signora.

–        Buongiorno ispettore, ho fatto il tè.

–        Lo bevo volentieri.

–        Si tolga il cappotto, si sentirà più a suo agio.

–        Lei vive in questo quartiere da tanto tempo?

–        Sì, da quando ero piccola. È sempre stato un quartiere tranquillo, poi è successo quel crimine.

–        Il mondo in generale è un quartiere poco tranquillo.

–        È vero.

–        Mi dica, signora, lei conosceva l’ispettore deceduto?

–        Veniva qua spesso, amava tanto mangiare il baccalà. Ho sempre le sue fotografie e ne ho una della poveretta con gli occhi bianchi come la neve.

–        Di chi si sospettava in quel periodo?

–        C’era una teoria che diceva che fosse stata una persona grassa.

–        E su che cosa si basava tale teoria?

–        Qualcuno aveva visto un uomo grasso aggirarsi vicino al luogo del delitto, si è sospettato di un poliziotto che di solito, da ubriaco, si addormentava sulla porta della lavanderia.

–        Pare che ora ci siano nuove teorie.

–        Che tipo di teorie?

–        Hanno fatto un nuovo esame del sangue della vittima, ha per caso già sentito parlare del DNA.

–        Vagamente.

–        Sono state scoperte tracce di cenere nel sangue.

–        Cenere?

–        Il crimine potrebbe essere stato commesso da qualcuno che fuma sigarette francesi.

–        Chi?

–        Si sospetta di un vecchio operaio della fabbrica di biciclette, un certo Raimundo.

–        Lo conoscevo.

–        Sa se si trova ancora nelle vicinanze.

–        Credo che sia emigrato qualche anno fa.

–        A quanto pare ha perseguitato la poveretta. Persecuzione sessuale.

–        Devo guardare nel dizionario.

–        Posso spiegarle io.

–        Spiegarmi che cosa significa perseguire?!

–        Certo.

–        C’è un trucco che funziona per vendere la frutta.

–        Che cosa significa?

–        La persecuzione è un dolce.

–        Un dolce? Il mio defunto marito mi ha perseguitato con i fiori, sapeva che mi piacevano le rose.

–        E poi?

–        Dopo i fiori quelle cose intime. Non capisco…

–        L’amore è un crimine.

–        Lei dovrebbe scrivere libri.

–        Non mi faccia ridere. Ora devo andare, inizia a fare freddo.

–        Vuole un po’ di minestra?

–        No, grazie.

L’ispettore Vicente era arrivato fino in fondo alla strada, quella storia costava il suo intero stipendio.

–        Quando prego mi viene voglia di chiedere… Dio, chi ha ucciso la poveretta?

È stato il vecchio lavoratore della fabbrica di biciclette. Mentre l’ispettore Vicente si pone queste domande il factotum sembra divertirsi.

–        Lo sanno tutti che è stato un poliziotto grasso.

–        Non è difficile. Dice l’angelo delle notizie battendo con le ali sulla tastiera del computer.

–        Quella persecuzione era solo uno scherzo.

–        Non importa, avevo bisogno di un operaio di fabbrica per completare la mia collezione.

–        Per te non sono altro che un oggetto da collezione.

–        Guarda che se il cielo fosse abitato solo da persone intelligenti, apprezzerei molto di più l’odore delle fogne dell’inferno.

–        Quell’ispettore mi fa pena, quei due agenti segreti non sono affatto uguali, l’unica cosa segreta in lui è il numero di scarpe che porta, forse anche le posizioni sessuali, e di quante volta gioca al lotto ne ha già parlato a quella donna delle pulizie.

–        Vuole una promozione. Dice il vecchio ispettore.

–        Con la nuova legge l’età pensionabile è di 65 anni.

–        La mia pensione deve essere sui 3mila… Inveisce Pedro.

L’ispettore Vicente era arrivato a casa, si era tolto l’impermeabile e, ancora vestito, si era sdraiato sul letto. Sul comodino c’era il telefono. Si alza e apre l’acqua della doccia, era prima andato in cucina a prepararsi una vodka all’arancio. Per non essere disturbato aveva staccato il telefono, ma senza alcuna spiegazione mentre faceva il bagno era squillato, era uscito dalla doccia, si era messo le ciabatte ed era andato in camera.

–        Che strano! Prende la cornetta e risponde.

–        Pronto?

–        Sono il poliziotto grasso.

–        Chi?

–        Sono stato io a uccidere quella creatura e a buttarle lo sperma sugli occhi.

–        Ma lei chi è? Che razza di scherzo è questo?

–        Prenda un taxi e mi raggiunga nella via degli Aliados.

–        E poi?

–        Mi troverà là vicino al chiosco Fior-da-liso, ho uno smoking bianco.

–        Non credo di voler perdere tempo così.

–        Venga!

–        E perché…

–        Per conoscere un professionista del crimine e dello snooker. Si era appena ricordato di essere stato per tre volte campione mondiale.

–        L’ultima volta che ho partecipato ai campionati è stato in Malesia, disse fra sé e sé guardando una piccola medaglia.

Nel mentre, un tipo con lo smoking bianco, appoggiato a un cartellone pubblicitario, guardava il suo orologio da tasca. L’ispettore in casa si guarda allo specchio.

–        Credo proprio che dormire male faccia venire le allucinazioni, che cosa devo fare? Domandò all’uccellino nella gabbia che pendolava dal tetto. Devo andare? Allora vado. L’ispettore Vicente va a prendere un taxi. C’era una traffico infernale.

–        Dove è diretto?

–        Via degli Aliados.

–        Passo dalla Casa della Musica?

–        Faccia come le pare!

–        Ha già letto il giornale oggi?

–        Non ancora.

–        Stanno cercando di risolvere un vecchio crimine, se fosse stato per me avrei lasciato tutto così com’è, non ne vale la pena, mettere le mani in quel sudiciume.

–        È possibile.

–        Dove la lascio?

–        Qualche metro prima di quel chiosco.

–        Qua va bene?

–        Sì, quanto le devo?

–        10 euro.

–        Prenda! Il mio bancomat.

In quel momento il factotum è seduto sulla sua sedia girevole. Maria della concezione, la sua segretaria, dice:

–        Signore.

–        Sì Maria.

–        Là fuori ci sono due gorilla dei servizi segreti.

–        Della CIA?

–        Sì.

–        Cosa vogliono?

–        Vogliono parlarle di un presunto attentato.

–        Ma questa non è mica Al Jazeera!

–        Li faccio entrare?

–        Credo che dovremmo neutralizzare il poliziotto grasso per evitare che faccia esplodere la città.

–        Cosa ha intenzione di fare?

–        Mando un angelo antimine.

–        Povero ispettore, dovrebbe fare qualcosa, è in pericolo, grida la segretaria mentre spolvera la sedia girevole. Entrano i due gorilla.

–        Mi chiami il factotum.

–        Mi dica!

–        Scenda a terra e rapisca il nuovo ispettore.

–        E dove lo portiamo?

–        Lo porti in una stamberga e lo ingozzi di brandy.

–        Questo è come riempire la pancia dell’oca.

–        È più facile sparare. Suggerisce l’agente più piccolo.

–        Non è ancora arrivata la sua ora.

–        Lasciate che beva quanto vuole.

–        Mi scusi ma bere non è peccato?

–        E ingarbugliare una storia già complicata non è peccato?

–        Potrei sedurlo, la seduzione è molto più potente dell’alcol. Suggerisce Maria.

–        Forse la cosa migliore da fare è cambiare il film degli avvenimenti.

–        Non lo facciamo più ubriacare?

–        No!

–        E qual è il piano?

–        Mando l’angelo dell’amnesia.

–        E cosa farà? Chiedono i tre.

–        Lo farà scivolare su una buccia di banana e battere la testa per terra.

–        Ma questo non è un metodo divino, osserva Maria della concezione, la segretaria.

–        Risparmiati questi discorsi sulla coscienza, mi basta l’angelo anarchico e questi due agenti che puzzano di patchouli e sono armati.

–        Ma signore sono agenti segreti, sarebbe stato ridicolo far suonare loro l’arpa.

–        Quando vivevamo sulla terra avevamo un metodo per insegnare loro a cantare.

–        Stavo pensando… contratterò con quel cornuto, sarà lui a fare il lavoro sporco. Invio l’angelo antimine e l’angelo amnesia e così sistemiamo il poliziotto grasso.

–        E di noi non hai già più bisogno? Sarebbe stato meglio firmare il contratto con l’altro lato.

–        Guarda, non so, di là c’erano i russi e i cinesi.

–        Hai ragione, non voglio avere niente a che fare con loro.

–        Non lo apprezzate per niente questo posto voi due… ormai però siete qua.

–        Che facciamo?

–        Consegnate le armi all’angelo armaiolo.

–        Tutte?

–        Sì.

–        Anche le bombe di carnevale? Ci piacciono quegli scoppietti.

–        E magari nascondevate le vostre bombe nei contenitori salva freschezza.

–        Capo, questa non è una setta religiosa?

–        Ho sentito dire che era il nome di un’attrice porno, un’attrice turca, dice la donna delle pulizie.

–        Ecco, stavo dicendo, consegnate le armi all’angelo armiere, poi scendete sulla terra per aiutare l’angelo antimine e l’angelo amnesia.

–        Andiamo a massacrare il poliziotto grasso?

–        Signore, grida Pietro, il guardiano della porta del cielo, è arrivato un fax.

–        Leggilo subito!

–        Fra venti secondi la via degli Aliados salterà in aria.

–        O mio Dio!

–        Tu sei Dio!

–        Certo che sono io, assomiglio forse a Woody Allen? Non perdiamo altro tempo, al lavoro.

–        Capo, là fuori c’è il dottor Kellogs.

–        Che venga più tardi.

–        È uno psicopatico.

–        Ed io sono il presidente Bush.

–        Il capo legge sempre le barzellette del Reeders’ Digest.

–        Questo dottor Kellogs lo dovrebbe sapere che non sono un dottore della mutua.

–        Factotum, mancano dieci secondi!

–        Che l’autore di questa storia non scriva neanche un rigo in più.

 

Tg delle otto.

Una bomba di produzione artigianale è stata disattivata da un battaglione di formiche. Il signor Geronimo, pasticcere della pasticceria Guido, ci parla in diretta.

–        Noi di solito i dolci avanzati li buttiamo nella spazzatura, avevo visto un oggetto metallico, ma ho pensato che fosse una bomba ad acqua.

–        Crede che sia stato grazie alle formiche e al suo dolce che la città non è saltata in aria?

–         È la prova che mangiare dolci non fa poi così male ai denti, una bomba farebbe molto peggio.

–        Grazie.

–        Posso salutare la mia famiglia che vive in Francia?

–        Faccia presto.

–        Sono solo 5 mila.

E ora vi domanderete che cosa ne sia stato dell’ispettore Vicente e del poliziotto grasso. Non vi muovete da lì, torneremo quando meno ve lo aspettate.

 

 

 

 

 


 

 

 

 

 

 

 

IV.

Il giorno in cui i giapponesi se ne andavano in giro per il cielo a scattare fotografie accompagnati da una guida che spiegava loro lo stile architettonico di ogni nuvola, era dell’anno in cui fu costruito il museo dell’arpa e altre informazioni che potete trovare nelle guide turistiche. Non so se sapete che i giapponesi non solo sono capaci di trasformare la tecnologia creata dagli altri, ma riescono, grazie a dei procedimenti virtuali, a portare i vivi a calpestare per un prezzo dell’altro mondo il suolo celeste. Non so se sapete che in cielo la lingua ufficiale non è già più l’ebraico. Il factotum dovrebbe sapere l’inglese, è davvero inconcepibile, lo sanno anche gli emarginati, dal ladruncolo amatore al diavoletto inesperto nell’arte della tentazione. Il factotum ha creato il mondo in sette giorni, in un mese potrebbe imparare l’inglese.

–        Angelo della rivoluzione, farei bene a imparare l’inglese?

–        E come lo impari?

–        Ho sentito dire che ci sono dei corsi della BBC.

–        Posso prendere un film a noleggio in una videoteca.

–        Qua c’è una videoteca?

–        È il negozio delle apparizioni, l’altro giorno c’era un diavoletto con un DVD porno.

–        E che film era?

–        Lucia impara a pregare.

–        È un film inglese?

–        Credo sia italiano.

–        Se ci vai noleggia quel film , come si chiama, Cantando sotto la pioggia.

–        Io ho visto tre volte Arancia Meccanica, lo dovresti vedere.

–        E perché?

–        Per imparare l’inglese di strada, il gergo.

–        Io sono Dio, non devo imparare cose volgari, né cose violente.

–        Scusami tanto ma questa cosa di non dover imparare cose volgari e violente non la capisco proprio.

–        E perché?

–        L’altro giorno hai buttato sulla terra delle secchiate d’acqua grandi come vasche da bagno. Hai provocato danni incalcolabili, per non parlare dei morti, e mi vieni a dire che sei contro la violenza e che non vuoi imparare le parolacce.

–        Guarda, se ancora non lo sai, a buttare tutta quell’acqua è stata la signora Carmelinda, la donna delle pulizie, avrei potuto mandarla a pulire le scale dell’inferno, ma poi sarebbero venuti non so quanti diavoletti a bussarmi alla porta tutti bagnati a chiedermi in prestito il microonde per scaldarsi da mangiare, e io non voglio confondermi con questa gente.

–        Dovresti essere più aperto?!

–        Sembri un comunista ortodosso!

–        Eccolo lui con la politica! ...

–        L’altro giorno, se ancora non lo sai, Pedro si è bucato un piede con un ago, là fuori dalle porte del cielo.

–        Si è bucato con cosa?

–        Con un ago che un diavoletto aveva lasciato sulla porta, aveva lasciato degli aghi e delle bucce di limone, lo capisci che il cielo non è un albergo?

–        Eccolo lui con quest’albergo!

Andiamo a mettere i piedi per terra ed entriamo nella grotta dei treni, là dove vive il negro che dipinge e canta il rap, ora sta danzando sull’asfalto. Un giorno, mentre parlavo con il poeta Alexandre, lui mi aveva detto:

–        Noi danziamo con la vita e tutto ciò è complicato, quando la terra ci vuol far cadere ci aggrappiamo con tutte le forze alle mani della vita, lei può essere la nostra migliore compagna, ma noi crediamo che quello che abbiamo sia meglio di quello che non abbiamo la certezza che possa essere migliore, soffriamo d’amore e amiamo l’amore, pur non credendoci.

–        Certe volte il silenzio non mi dispiace per nulla.

–        E che cosa pensa in questo suo silenzio?

–        Il silenzio non è mio, è una cosa bella perché non è vuota.

–        E l’investigazione procede?

–        È solo curiosità.

–        Conosceva quella ragazza?

–        So che vendeva lingerie in una boutique e che è stata trovata con dello sperma sugli occhi.

–        Io la conoscevo male, l’unica persona che sa tutto ciò che succede è la signora Alzira, credo che anche il creatore le abbia domandato: Alzira che cosa sai sul tuo vicino di casa del primo piano? È vero che ha speso tutti i soldi dello stipendio e che ha un’amante? Signore, la vita è degli altri… è vero che quella donna aveva una giacca di pelle e comprava a credito?

–        Non so se gliel’ho già detto, ma a me piace la signora Alzira, assomiglia all’umanità, non ha storia e fa la storia di questo secolo, le sue cronache sono come una scala sulla mappa politica e bellica del mondo. La signora Alzira vende la frutta e la politica possiede un altro veleno e un altro sapore, e tutto questo ci porta verso una frustrazione assoluta.

 

Nel mentre in cielo.

 

–        Ho voglia di piangere!

–        Stai diventando romantico, factotum.

–        Mi piace la poesia, la mia mamma quando ero piccolo preparava le recite di Natale.

–        Veniva a vederci molta gente.

–        Ma gli unici attenti sembravano il bue, l’asinello e la pecora.

–        E non c’era nessun altro?

–        I re maghi russavano in ultima fila.

–        Sa che qui c’è un gruppo di teatro?!

–        Qui in cielo?

–        Ora sono all’inferno.

–        Credo siano spagnoli.

–        E il loro spettacolo come si chiama?

–        Don Chisciotte e il corpo focoso di Dulcinea.

–        L’hai già visto?

–        Sì.

–        Factotum. Dice la donna con lo sperma sugli occhi. Mi piacerebbe fare del teatro, alle superiori ho recitato in uno spettacolo. Gesticolava mettendosi polvere di riso sugli occhi.

–        Immagino che con questo corpo tu facessi palpitare molte platee, dice l’angelo della rivoluzione guardando il bel fondoschiena della donna.

–        Potremmo scendere a terra, suggerisce l’ispettore.

–        Scendere a terra perché?

–        Mi mancano i miei amici.

–        Ma tu sei morto.

–        Sì, ma mi mancano uguale.

–        E che cosa ci facciamo sulla terra?

–        Potremmo prendere un corpo in affitto e andare a vedere una partita di pallone.

–        Accontentatevi del teatro.

–        Potremmo vedere O Auto da Barca do Inferno.

–        Io non ci vado all’inferno.

–        Ma che problema hai?!

–        Preferisco il calcio.

–        Prendiamo un autobus a noleggio, grida l’ispettore tirando fuori dall’impermeabile una sciarpa verde.

–        Preferisco che ci andiate da soli.

–        E il factotum rimane da solo?

–        No, mi metto a studiare inglese.

Il factotum si era messo a studiare mentre l’idraulico, l’ispettore e il marito della donna delle pulizie erano andati a vedere la partita di pallone. La donna che aveva lo sperma sugli occhi era andata a teatro, avevano tutti indossato una pelle invisibile, un grande vantaggio per delle anime assetate di cultura e di sport. A vedere la partita c’era anche una claque di angeli neri.

Il factotum si era messo a studiare inglese e il bambino che era stato investito da un carro di buoi saltava e correva facendo tremare tutto.

–        Potresti fare meno rumore? Sto cercando di studiare e con questa confusione non riesco a concentrarmi.

–        E dove vado a giocare?

–        Hai ragione, i bambini hanno bisogno di giocare. Guarda, vai sulla nuvola dell’angelo giapponese e chiedi se ti lascia giocare alla Play.

–        Ha dei giochi stra fighi.

–        E che giochi sono?

–        Ha i tre pastorelli e il drago dell’apocalisse.

–        Deve essere un po’ violento!

–        Ma è tutto finto.

–        Forse sì, ma è già la terza volta che cambiamo la porta.

–        C’è anche un altro gioco figo.

–        E qual è?

–        Il poliziotto grasso scioglie il suo grasso nell’inferno, è un gioco carino.

–        Va bene, vai là sulla nuvola dell’angelo giapponese, così io continuo a studiare.

 

Mentre il factotum studiava inglese sulla terra era una bella giornata di sole, una domenica; le voci vibravano nello spettacolo dei gol; Antonio, commentatore della partita con i gol messi a forza dentro alla voce, è stato trascinato nella grande area della vita ed è salito in cielo in compagnia delle anime tifose.

 

-          Factotum ti abbiamo portato Antonio, la voce della radio che commenta le partite.

-          Ho una radio portatile, dice la donna con lo sperma sugli occhi.

-          E perché dovrei volere tutto questo?

-          Per ascoltare le radiocronache delle partite.

-          C’è già rumore a sufficienza.

-          Mi piacerebbe intervistare un arbitro, dice il commentatore Antonio, conosciuto anche come “Antonio voce lunga”.

-          Per adesso non è possibile.

-          Sta cercando bloccare l’accesso all’informazione.

-          Non c’entra niente, ma vada all’inferno, lei e tutti gli arbitri.

-          L’ambiente si sta scaldando, dice l’ispettore.

-          Quando fa così è meglio non dire nulla. Aggiunge la donna con lo sperma sugli occhi.

-          Mi scusi, ma come mai ha dello sperma sugli occhi?

-          Sono stata stuprata da un poliziotto grasso.

-          Nel mio paese una ragazzina è stata scopata da un prete.

-          Tutte le volte che un prete bussa alla mia porta dico sempre che non ho bisogno di pulire niente.

-          Stiamo parlando di scopare in senso erotico. Dice il narratore.

La signora Alzira, a proposito dei preti che scopano i bambini, diceva sempre che avrebbe volentieri tagliato loro il dito tra le gambe, l’avrebbe messo in una busta e, nel momento in cui questo sarebbe giunto a miglior vita, avrebbe bussato alle porte dell’inferno; i diavoletti avrebbero usato il dito come una sostanza afrodisiaca, o forse l’angelo chirurgo avrebbe potuto usare quel dito per un trapianto. Il factotum aveva deciso che in casa sua potessero entrare i pazzi, i comici, gli imprenditori calcistici e gli addetti alle infrastrutture, se ci fosse stato bisogno di fare qualche lavoro. L’entrata era vietata ai giornalisti, poiché l’inferno è una delle migliori fonti d’informazione, le notizie esclusive e gli scoop vengono tutti da là.

–        Factotum là fuori c’è una giornalista del Times.

–        Che cosa vuole?

–        Vuole intervistare la ragazza che ha lo sperma sugli occhi.

–        Le concedo cinque minuti, e niente fotografie o registrazioni, se accetta queste condizioni non ci sono problemi!

La giornalista e la donna si erano trovate in un salottino, la donna con lo sperma sugli occhi con le gambe incrociate.

–        Da quanto tempo vive qui?

–        Da un po’.

–        Davvero è stata assassinata?

–        Sì.

–        E chi l’ha uccisa?

–        Un poliziotto.

–        Può dirmi il suo nome?

–        Non ha importanza.

–        È una buona storia e le storie buone sono importanti.

–        Anche il silenzio è importante.

–        Posso fumare?

–        No.

–        È sempre così arrogante?

–        Senta, io ho molto da fare, vado a fare le parole crociate, la cosa migliore dei giornali.

–        Va bene, buona giornata.

La giornalista, tornata a terra, si era inventata la storia, usando nomi diversi e molta gente aveva avuto la sensazione di essersi sognata tutto. Il sarto tasca scucita aveva pensato che fosse tutto basato sul vangelo delle fesserie. Alzira aveva servito la frutta sospirando profondamente, in attesa di nuove avventure.

 

IV

Il factotum in questo momento sta contemplando la scacchiera, di solito gioca a scacchi con l’idraulico che ha aggiustato le fognature dell’inferno, quell’idraulico sembra Super Mario, basso e grasso, cammina come se si portasse dietro un peso sui piedi.

–        Fa freddo, dice l’idraulico Manuel.

–        Fa davvero molto freddo, non abbiamo mai passato un inverno così prima d’ora.

–        Ma non è lei che controlla il tempo.

–        Prima me ne occupavo io, ora mi risparmiano un po’ di lavoro.

–        Si spieghi meglio!

–        L’ho letto in un articolo di Le Monde.

–        Parla francese?

–        Da bambino in bagno cantavo canzoni francesi.

–        E che cosa diceva l’articolo?

–        Pare che gli americani abbiano inventato un sistema 4 per 2, invece di avere inverno, autunno, primavera e estate, abbiamo solo l’inverno e l’estate.

–        Mi piaceva di più il tempo di prima.

Mentre i due stanno parlando, entra con aria provocante la donna con lo sperma sugli occhi, prende il re dalla scacchiera ed esclama.

–        Sarà davvero virile questo re?! La regina mi sembra molto più di lui, se potessi raccontare al re quello che fa lei con il vescovo la eliminerebbero subito.

–        Non so, forse è colpa dei brufoli.

–        Sono i brufoli a farla parlare da sola? Mia sorella parlava con il cellulare spento, e poi le sono venuti i brufoli.

–        Forse è quella goccia di sperma che ha sugli occhi.

–        Negli Stati Uniti ci sono degli ottimi chirurghi plastici.

–        Per motivi economici ho provato a cercarne alcuni sul mercato spagnolo, quel cornuto di solito compra i fiammiferi a Salamanca, dice che là costano meno. Un po’ di tempo fa abbiamo dovuto risolvere una situazione complicata, un pittore con problemi di pigmentazione, diventava azzurro da un momento all’altro, e poi rosa.

È stato complicato.

–Quando ero piccolo, là al mio paese, venne fuori una ragazza con la lingua grafica, poi accorsero che mangiava le pagine dei morti.

–Ora è all’inferno, è assessore, addetta alla comunicazione, quando hanno stipulato il protocollo di Kyoto sul riscaldamento globale lei, come portavoce del cornuto, disse che non si sarebbero presentati.

–Anche gli americani non hanno firmato l’accordo.

–Non dico altro, poi pensano che sia antiamericano.

–Vuole giocare a scacchi?

–Sì.

–Ultimamente passo i pomeriggi a guardare le telenovelas.

–All’inferno ci sono molte brasiliane. Noi qua abbiamo i rumeni che sfogliano il Caio Baccelli per vedere quando piove, ora ci sono meno immigranti.

–Iniziamo a giocare.

–Va bene.

Mentre i due giocano la ragazza con lo sperma sugli occhi fissa gli occhi del re con uno sguardo malato e malizioso. Il factotum pensa che vorrebbe poter rifare il mondo un’altra volta, forse verrebbe fuori una cosa ancora più pazza, ma sicuramente non sarebbe così divertente.




publicado por relogiodesacertado às 19:12
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...

 

.

Qualcuno va in giro a sfasare l’orologio del mondo, o è stata trovata una donna morta con dello sperma sugli occhi.

 

I.

Mi trovo nella via piovosa delle lacrime; scalo la montagna e su di una nuvola vedo un uccello. Credo sia Dio, il creatore dell’orizzonte e del cielo che si intravede negli occhi dei poeti vagabondi. Cade dal ventre sino in città. Lisbona mi ha aperto gli occhi; ho la città e il fiume, ho le parole come sangue, cadono dal corpo dei libri verso il silenzio delle strade. Ti racconto che la poesia si è attraversata, come una barca sul mare del destino. Tu non credi al destino; guardi il bianco di un muro, vedi solo linee e ti aggrappi a loro così come si fa con i gesti, come un’altra forma della natura. La natura è la madre di ogni danza, parla tutte le lingue e tu conosci il segreto che fa muovere ogni organo vitale. La terra, il fuoco, l’elemento solitudine, elemento corrosivo delle passioni che fa crescere verso un’altra direzione il nostro primo sospiro d’esistenza, l’inizio della nostra storia. Abbiamo tutti un oceano dentro, tutti abbiamo un pesce colorato. Dentro di noi fluttuano la calce, il cemento, l’argilla rossa e il ferro che dà forza ai guerrieri stremati.

In città c’era un ragazzo che viveva nella grotta dei treni, guardava il cielo e disegnava come un Dio bambino l’azzurro seta che veste gli angeli della città povera. Tanto tempo a guardare le pietre, a sentire le automobili veloci e la mano del vento a chiudere gli occhi dei vecchi moribondi. Il ragazzo che disegna come un bambino è oriundo di un’isola, veniamo tutti da un’isola, la nostra isola è la paura che ci portiamo dentro e tante altre cose che non sono sempre le lame o le ceneri che infiammano gli occhi lacrimosi.

Mi chiedi se ho un senso, se esiste la luce e se l’oscurità sia un principio che fa dormire. Il seme che dalla terra germoglia non può darti nessuna risposta. La terra è nuda e tu non riconosci la sua nudità, non è gradevole come quella delle donne. È necessario trasformare l’argilla rossa nella forma curva delle parole, è importante tornare all’energia che incendia il cuore e dà la forza agli operai, trasformandola nella volontà che ci protegge, a noi cittadini comuni, da certi rituali di sangue, quel sangue che l’artefice usa per esprimere nella pietra e nel ferro e in altre materie organiche la ragione di essere della scienza e della politica, la ragione della presenza dei frutti sugli alberi e degli spiriti vestiti da corpi, e della presenza di odio e passioni, di poveri e ricchi e di tutte quelle creature che il cinema produce, così fredde e vere, come la morte.

 

L’eternità è il momento che il creatore del cielo e della terra ha trasformato nel gioco della sua solitudine personale. Com’è possibile che il creatore custodisca la solitudine delle proprie creature nelle cinque dita della sua mano umana? Il realista, conosciuto in questa strada come il più convinto dei materialisti, non crede all’eternità. Ai tavoli si serve pane duro e vino aspro; la guerra è così; una terra rossa e un cielo azzurro che fa cadere l’occhio sul film tremulo del paesaggio. Il realista non crede che esista uno spirito che si muova tra le acque, tantomeno in un creatore capace di far miracoli. Nel film di questa strada c’è un poliziotto grasso che controlla le porte del cielo. Poiché controlla la strada, non può trovarsi alle porte del cielo. Tra le porte del cielo e le porte della morte si trova una lavanderia per il lavaggio delle parole sporche. Il realista, quello che difende la teoria dell’inesistenza di Dio, domanda a tutte le creature presenti in assemblea se qualcuno abbia mai visto con i propri occhi l’ultimo silenzio delle creature. Nessuno o quasi nessuno ha saputo rispondere; un ragazzo sordomuto ha raccontato a gesti che chi ha creato il mondo l’ha fatto sfuggendo alla parola: doveva scegliere tra il potere della creazione e lo spreco del linguaggio. Visto che in questa via esiste chi creda in Dio, abbiamo sentito dire che costui ha creato i monti e le valli, le valli parevano punteggiatura, diceva sempre il signor João, professore di portoghese e credente. Rosalinda, conosciuta come la grassa e chiamata anche “servizi segreti” dice che la grammatica è materia del diavolo. Lei dice che esiste la grammatica delle tentazioni.

Sono le sei del pomeriggio, ora di punta, il ragazzo negro dipinge di vari toni la grotta dei treni, lui ha lo stile inconfondibile dei bambini e non è per esser così che deve affrontare il disprezzo di una qualunque natura morta, questi che passano arroganti e non profumano d’immaginazione! Costoro meritano l’ironia dei loro cani e dei loro gatti, e delle pulci che balzano sui materassi dei malati. Mentre le pulci saltano l’aereo cade a picco in mezzo all’orinale, non so se questo è descritto nel libro dei creditori o nel manifesto surrealista pubblicato a Parigi nel 1924.

Di solito passeggio nel giardino pubblico, là c’è una statua che custodisce tutti i dolori, tutti i vecchi mendicanti vi urinano litri di vino e birra e con uno schizzo colpiscono il centro della bocca dell’illustre. La statua che custodisce i dolori mi ricorda la mia vecchia macchina fotografica, capace di nascondere l’età degli uomini e di rivelare le rughe sulla pelle dei dinosauri. Il realista, uomo di scienza e calcolo, ritiene che il calore dell’oro possa modificare la natura e deturpare l’esatta verità delle cose. Non è sicuro che il ministero della poesia e dei giochi di prestigio sia stato inaugurato. Il postino ha consegnato gli inviti presso la residenza ufficiale del dottor Jorge, imprigionato dai suoi doveri di presidente della patria selvaggia. Il presidente si è affacciato dalla finestra per decorare il paracadutista con la grande lacrima di coccodrillo codardo. Il realista dice che il coccodrillo codardo non esiste, opinione diversa da quella di tasca scucita, il sarto di questa strada, che da bambino fu pastore. I due avevano discusso a proposito del coccodrillo codardo per poi andare a parare alla creazione dell’universo e nel bel mezzo della conversazione era spuntato fuori il ricordo di quel ragazzino pieno di sole che aveva desiderato tanto possedere una nuvola e tenerla in mano sulla strada di scuola. Per la sua innocente distrazione era stato investito da un carro di buoi ed era morto. Mentre discutevano, mettendo sempre in mezzo i carri di buoi, le nuvole e la morte di un ragazzo pieno di sole, il mondo escogitava le sue trappole. Quest’espressione l’ho sentita dire a un giovane marocchino cui le muse avevano dato il potere di negoziare con il profeta la vendita di moquette per arredare il paradiso. Io credo che la moquette alzi la polvere e che con lo sbattere delle ali degli uccelli possano sorgere molti problemi respiratori. Il realista, a proposito dello sbattere delle ali che alzano la polvere, ricorda la venuta del re avvolto in una capsula di nebbia.

 

Pareva un romanzo di fantascienza, commentava lui. Il ragazzo che disegnava come un bambino, che iniettava nelle sue vene la morte, che sembrava avere un sorriso felice, sapeva che il creatore può vivere in un foglio di papiro, così come in un vecchio cingolo da guerra. Che costui esista o no, ringraziamo comunque la terra per averci dato una certa dose di luce e una certa dose di oscurità, quest’oscurità intima disegnata nelle lenzuola di lino. Quelli che dormono sul freddo delle pietre, che negli ultimi giorni bevono brodo di gallina all’ospedale pubblico, non riescono a piangere, e neanche a sorridere, non sanno spiegare il loro dolore. Il realista ha girato il mondo, ha visto i grassi dell’impero e i magri da lui sottomessi. La morale e l’etica non esistono, esiste il corridoio della morte, una grande nazione terrorista e una grande bestia che lavora nei giornali, nelle televisioni, nelle radio… questa nazione è un’idea vacua, sa del profumo degli uomini. Nella grotta dei treni c’è sempre un temporale, è una pestilenza che dura già da diversi giorni, qualcuno si ricorderà che esiste un’intenzione terrorista nel creatore delle cose o nella natura. Che sia il creatore delle cose o qualsiasi altro, pare che giri per qua qualcosa che sfasa gli orologi del mondo. È assurdo comprare il creatore da un costruttore di orologi. Tale commento fu proferito da un pastore evangelico che annunciava la salvazione come se Dio avesse vagato per il mondo a pubblicizzare detergenti.

–        Come si chiama.

–        Pastore Lucas.

–        Di dov’è?

–        Stati Uniti.

–        Avevo intuito in lei qualcosa di strano!

–        Strano?!

–        Un misto tra la commedia e la nausea.

Il pastore sorride ed esce camminando verso la sua chiesa. Scende la notte, sento il tintinnio delle monete, una percussione di miseria batte nella gonna della zingara rumena e nel cappello del vecchio che suona il sassofono. Il vecchio soffre di reumatismi e prima di fare il musicista di strada era professore in una scuola di provincia.

–        Questa piaga esiste sin dai tempi in cui io ero professore.

–        Circola per qua un veleno. Dice il commesso viaggiatore.

–        E che cos’è?  Domanda il senza gambe, venditore ambulante di biglietti della lotteria di quella strada.

–        Obesità leggera. Può essere una cosa del diavolo. Suggerisce il pastore.

–        Rimango della mia opinione, sei un tipo strano, il diavolo colpevole per l’obesità, l’inferno deve essere appiccicoso come una mousse di cioccolato.  Ironizza il realista.

Nel frattempo suona il telefono nell’ufficio del presidente.

–        Qui è la brigata XL .

–        Di cosa si occupa?

–        Bombe e assalto a mano armata.  

–        Deve esserci un errore.

–        No, noi non inganniamo mai nessuno, la brigata XL è perfetta, più di una linea retta.

–        Ma io sono il presidente.

–        Va bene, abbiamo un presidente in linea retta.

–        Riattacco.

–        Prenda le pasticche per il cuore. Tutti i presidenti dei nostri cataloghi soffrono di questo male.

Durante la notte due uomini col fucile in spalla camminano senza sosta. Vicino alla finestra c’è un uomo legato a una sedia. Uno dei due uomini si avvicina.

–        Vuole una sigaretta.

–        Non fumo.

–        Non ti vuoi contaminare! Sai che se ti sparo ti contaminerai per sempre?!

–        Amen. Dice l’altro uomo. Poi dà lui un calcio in bocca.

–        Ma lo vedi questo tipo?!

–        Spara.

–        Posso? L’altro carica il grilletto.

–        Posso raccontarti quanti buchi hai lasciato sul suo corpo. Ci si potrebbe posare una farfalla.

–        Forse.

Arriva un momento in cui la notizia entra in corpo, pane per il giornale nella pancia del mondo. Si è sentito dire dalla bocca del mal augurio che in quella strada era stato commesso un crimine. La vittima era una donna dai lineamenti greci. Era stata stuprata con tanta brutalità che il sole era nato dolente, desideroso di non sorgere ancora. Lo stesso giorno un’altra donna guardava le nuvole… che terribile crimine! Ma quando la lama dell’ignoranza è ben affilata, succede che si smarrisce il cammino della natura. Il pastore evangelico indicava col dito gli organi genitali dei membri della propria chiesa, mentre lui indicava i fedeli erano trafitti da una colpa in mezzo alle gambe. Io dico che il corpo nella sua essenza non pecca, se non per le menzogne che accollano lui. La notte è un forno, la donna guarda le nuvole e sfoglia le pagine di un libro custodito da tanto nei cassetti del pensiero segreto. La donna che è stata stuprata, quella dai lineamenti greci, oltre ad avere la pelle bruciata, aveva vestigi di sperma sugli occhi. Si parla ancora a freddo del crimine, tutti giocano a indovinare il colpevole elaborando le loro teorie, il vecchio del sassofono incolpa del crimine una disfunzione ormonale. Questa disfunzione ormonale è una bomba, figlia di una gran puttana. Ma alla fine chi ha ucciso la donna?

 

Questa presunta stonatura ormonale è la figlia di puttana di una bomba. Alla fine chi è stato a uccidere la donna? Deve essere annotato tutto: la quantità di alcol presente nel sangue, sesso, età, se era vecchio o giovane, se prendeva il caffè con lo zucchero o usava il saccarosio. L’ispettore che si sta occupando dell’indagine è un tipo forte, strascica i piedi, ha un accento del Nord e modi gentili. Adesso interroga gli abitanti di quella strada, la signora Alzira, la donna della frutta, non sa nulla ma fa finta di sapere tutto.

–        Qua per me il colpevole è quel Garcia della telenovela messicana. Dice con insistenza.

Com’è già stato scritto nelle pagine precedenti il movimento surrealista fu inaugurato nel 1924 a Parigi. In questo momento l’orologio della torre batte le undici, da uno dei molti esami effettuati sul corpo della vittima sappiamo che l’autore del crimine si è sdraiato su di lei come una virgola sul corpo della parola. Le autorità pensano che ci sia una mano surrealista dietro al crimine e, ancora senza un colpevole certo, hanno arrestato i seguenti soggetti: il poeta Alexandre che al momento dell’arresto declamava le qualità della cernia, pesce che fa parte della dieta di muratori e altri operai del genere, tale poesia è stata tradotta in ucraino, croato e ceco. Il senza gambe, venditore professionista di biglietti della lotteria è per il Ministero Pubblico un surrealista mascherato perché riesce a giocare a calcio e ha una capacità di corsa ben superiore a quella del pensiero. Antonio Magia, professore di musica trovato con la bocca in mezzo alle gambe di una chiave di violino. I tre surrealisti si sono presentati in tribunale, chiamati così per aver pestato delle sopravvivenze. Questi tre che per avere l’aspetto di Gesù Cristo Nostro Signore formato calendario da barbiere, agli occhi del popolo sono stati etichettati come criminali stupratori. L’autore di questa storia sa chi è stato a uccidere la donna trovata morta con dello sperma sugli occhi. Prima però è necessario chiarire il motivo per cui il creatore abbia deciso di contrattare un poliziotto grasso per vegliare le porte del cielo. Ascoltiamo il seguente dialogo:

–        Pietro devi fare qualcosa.

–        Fare qualcosa signore? Sa quanti anni ho, non posso uscire, il freddo mi fa male alle ossa.

–        Allora per un po’ di tempo qualcuno prenderà il tuo posto e tu andrai a pescare, guarda, andrai a pescare il baccalà.

Pietro è andato a pescare e Dio ha contrattato temporaneamente un poliziotto grasso per vegliare le porte del cielo. Continuando la storia, il vero assassino era il poliziotto grasso che con lo spirito delle sue due narici vegliava le porte dell’oltre e, al tempo stesso, faceva tornare il suo corpo in terra, dove si saziava di sangue e lussuria. Ci piacerebbe sapere che cosa passasse per la testa al creatore nel contrattare un poliziotto grasso educato in una delle più economiche imprese di sicurezza. È vero, un poliziotto merita comunque tutta la fiducia del popolo e se il creatore l’aveva scelto a occhi chiusi, pur soffrendo di miopia alla mano destra, sicuramente sapeva ciò che stava facendo.

 

Scendo sulla terra, nella via piovosa delle lacrime, il realista ha una nuova teoria sulla fede in Dio; crede in Dio ogni povero che, ammettendo tutte le povertà, non riesce ad accettare la peggiore di tutte, la solitudine. Quando presi in flagrante nostalgia, ci raccontano che Dio è sempre dalla loro parte. tasca scucita, il mistico della via, ha detto:

–        Dio è sempre con me, c’è quando sto con mia moglie e le faccio fare i figli e con i figli quando mi scaraventano in faccia tutti i miei dubbi.

Mentre qui nella via il realista e tasca scucita stanno difendendo teorie diverse sull’esistenza o no di Dio, il creatore, che vede e sa tutto, per il colmo dei colmi non sa ciò che succede a casa sua, ovvero in cielo, luogo affittato agli angeli e agli uccelli turisti. Se non sa quel che succede a casa sua, non deve essere informato sulla nuova inquilina, la donna morta con lo sperma sugli occhi.  Dunque succede che il poliziotto grasso, lui, che per qualche mese di eternità aveva vegliato le porte del cielo fino al ritorno di Pietro il pescatore, lui, che possedeva la chiave dell’enigma e che faceva accendere la luce degli astri, aveva deciso di confessare il crimine commesso. Era vestito di un corpo invisibile quando e poi era entrato nel bagno di un bar per cambiarsi le vesti invisibili con un vestito ben visibile. Mentre attraversava la strada aveva riconosciuto l’ispettore che strascicava i piedi. Così si era inginocchiato aggrappandosi ai pantaloni dell’ispettore e questo aveva domandato lui se avesse la pressione bassa. L’altro aveva risposto che era un criminale e che aveva stuprato una donna e quella confessione usciva come un fiume in piena. L’ispettore guardava l’uomo inginocchiato ai suoi piedi, aveva l’espressione di un cane rognoso, poi aveva tolto dalla tasca del cappotto una pistola e gliela aveva puntata agli occhi. Grande oscurità! Sembra che abbiano spento l’interruttore dell’esistenza. È avvenuto tutto così rapidamente, con un clic alla luce della nascita, poi un altro e poi arriva l’oscurità della morte. Tu hai soffiato nelle narici del tuo amante, il paradiso esiste quando hai amore e quando non ce l’hai organizzi il tuo affare, un biglietto andata e ritorno proprio dentro questa strada. Tu sei il paradiso. Chi ti può espellere?! Solo l’inganno ti può sottrarre al posto che hai conquistato.

 

Sei diviso in due meridiani uno di questi è un lasciarsi andare, una sensazione di non sapere cosa, di non pensare al senso di tutto ciò che è successo. La tua amante era nuda, è arrivata una nave a riscattare l’ombra del suo corpo nel caldo di una spiaggia. Tu tieni gli occhi aperti, il poliziotto grasso è completamente cieco, pensiamo che non commetterà mai più crimini, ma non è neanche per questo che finiranno, né per le dichiarazioni d’amore, né per il puzzo di sudore che rimane nelle sale d’attesa. Guardando più da vicino si sente una voce. Non c’è bisogno degli occhi per uccidere, si possono ancora usare le mani. Che il Dio creatore usi la sua misericordia, che raddoppi la sua cecità negli occhi e nel pensiero. Ma questi non sono i suoi piani, la cecità degli occhi e del pensiero non ha mai risolto i problemi delle guerre e delle malattie. C’è bisogno di giustizia, di un suolo di pietra e di un altro di foglie ad attutire. Che sia il creatore o la volontà della natura, che non si abbandoni alla perdizione ciò che può ritrovare la luce.

La signora Alzira, la donna della frutta, chiedeva in una lettera se lo sperma facesse bene agli occhi. La carota, lei sapeva che facesse bene, ora che lo sperma facesse bene agli occhi! Che facesse bene alla vita, che fosse il liquido fertilizzante che fa nascere re e plebei, padroni e schiavi, uomini perfetti e passati imperfetti accostati alle loro sedie girevoli, ai loro bastoni, alle loro memorie cancellate. Questi eiaculano sulle labbra delle loro amanti e la donna della frutta chiede se nevichi sul cielo-della-bocca? La direttrice della rivista, a proposito degli uomini che eiaculano fiocchi di neve sul cielo-della-bocca, risponde con un sospiro idiota che è possibile che il Concilio Vaticano Secondo faccia riferimento alla questione. La signora Alzira e gli altri abitanti della via, soprattutto chi crede a una vita oltre la morte, vorrebbero sapere in che direzione è andata la donna trovata morta con lo sperma sugli occhi. Sappiamo che aveva ancora quel liquido sugli occhi mentre scambiava il suo corpo. Lei non conosceva il suo aspetto nel momento in cui aveva lasciato il corpo fisico, là dove andava gli specchi non erano permessi, né schede fotografiche, né alcuna registrazione. La donna non conosceva i requisiti necessari per presentarsi! Lei sapeva dattilografare, aveva lavorato part-time in una profumeria, usava calze di vetro e una minigonna che si alzava e si abbassava secondo il pensiero di chi la guardasse. Gli alunni del professor João analizzavano il paragrafo di questa esistenza e per loro lo sperma sugli occhi era una figura retorica, come il poliziotto grasso che vagava per le stanze, che faceva alzare la febbre del proprio corpo. Il poliziotto grasso sarebbe stato mandato in un luogo che ancora non aveva un nome, che ancora non era né luogo, né esistenza.

 

 

Continuiamo a passeggiare, guardo dentro i tuoi occhi, ho la sensazione che nel loro vuoto inizi l’avventura del mondo. Guardo i tuoi occhi e mi sembra di entrare nelle case. Tu sei questa incertezza! Poi stringo le mie mani dentro le dita nascoste della strada. Tentiamo una fuga, cerchiamo di scappare da questa routine, stendo la strada sotto i tuoi piedi, è ancora tutto come prima, o quasi… è tornata in strada la musica del vecchio Antonio e le urla del senza gambe, il venditore di biglietti della lotteria, sono più rauche. Ti guardo e mi viene voglia di un’altra libertà, noi continuiamo a essere poveri, è una povertà che ci dimostra quanto sia grande il cuore. E noi apriamo i libri e questi sono perle. Ti piaceva un po’ di poesia. Il realista guarda e punta il dito come se indicasse un’incertezza. La poesia non paga i conti, non mette benzina nelle automobili. E all’improvviso un potere entra in me e io non so da dove venga. Guarda! La poesia mi fa piangere, non voglio tutta questa materia, la polvere che si alza da tutta quest’apparenza. La loro ricchezza è una maschera, questa cade e non c’è nient’altro da vedere, non ci sono fiumi, né fiori, né animali a fiutare. La loro ricchezza è una vita consumata, noi camminiamo scalzi, carichi della nostra libertà, loro camminano calzando una scarpa allacciata, camminano con i limiti d’orario, del dovere coniugale e dei figli che culliamo per dimenticarci delle nostre frustrazioni. È un giorno più freddo del solito, la grassa che nella via chiamano servizi segreti è andata a dire in giro che l’ispettore era malato, sembra che i medici abbiano diagnosticato un tumore. Alzira ha lasciato cadere una lacrima, quel maledetto Garcia della telenovela messicana avrebbe dovuto pagarla cara; ad Alzira l’ispettore era simpatico, soprattutto perché aveva lodato la sua ricetta segreta di baccalà. Dio creatore non aveva la minima idea di vedere un giorno al suo cospetto un ispettore giuridico. Noi non conosciamo la sua religione, né cose della sua vita personale, sappiamo che era nato in un paese freddo, che apprezzava il baccalà e che proprio per questo un giorno aveva chiesto il permesso di vestire l’abito dei sapori e scendere in terra per visitare la donna della frutta. Anche Alzira desiderava incontrarsi con lui, una vicina diceva di aver comprato un’antenna che riceveva gli spiriti, cose che si potevano trovare nel negozio orientale. Prima della scesa in terra dell’ispettore avevano dato lui un ologramma formato baccalà e patate. Il realista, su tale argomento, ha detto che si trattava di una farsa, chi avrebbe mai pensato a questa teoria di far mangiare ai morti baccalà e patate, avrebbe sfidato chiunque a provare il contrario. Siccome le donne hanno il dono di tirare dagli argomenti degli uomini l’acqua per il proprio mulino, Dio creatore si è fatto donna e ha invitato il realista a sedersi davanti alle telecamere della televisione per discutere la questione. Il realista non prestava attenzione agli argomenti della signora, aveva passato tutto il tempo a guardarle le gambe rimanendo infine senza una risposta. Era stato preso in giro da Dio nelle sembianze di una bella donna. Tra le tre di notte e le quattro del pomeriggio ha avuto luogo l’incontro tra l’ispettore e la donna della frutta.

–        È una bella giornata,

–        Fra poco piove.

–        È la vita.

–        Baccalà e patate?

–        Era il mio piatto preferito.

–        Quando mangiavi il mio baccalà e patate ti leccavi i baffi. Che modi, sbavare in quel modo non era certo ben visto. Ne vuoi un po’?

–         A che ora arriva tuo marito?

–         Mio marito oggi non viene. Sono bella?

–        Come una mela matura.

All’improvviso il Dio creatore aveva deciso di interrompere questo momento, aveva dato lui l’ologramma di baccalà e patate, non un CD-ROM di sesso virtuale. Mentre tutto ciò stava succedendo, era arrivato nella via piovosa delle lacrime uno straniero. Il realista e il sarto, tasca scucita, non parlando la sua lingua, bagnavano le sue labbra con il buon vino dell’ospitalità e con del pane per far continuare il discorso: tu parli la tua lingua, ma se provi la nostra grappa, il nostro cibo, quando metti il paesaggio nelle vene degli occhi, noi capiamo che tu non vieni da un altro pianeta, i tuoi dubbi sono le nostre certezze. Apro adesso una parentesi per evocare la memoria del signor ispettore, non essendo io cattolico, ma credendo fermamente alla vergine dell’olio, suggerisco che sia celebrata una messa in sua memoria, i soldi infatti scarseggiano perché questa vita da poeta permette solo qualche sigaretta e qualche medicinale per la bronchite. Tasca scucita e il vecchio musicista si erano accordati per rendere quell’omaggio. Il realista, nonostante non fosse credente, faceva volentieri festa. Finito il discorso applaudirono tutti e lo straniero, che non aveva capito niente, faceva di sì con la testa e aveva addirittura lasciato un dollaro per contribuire alla messa.

 

È ancora molto presto, per te, lanciarsi andare. Andrai a sbattere sul suolo dei dubbi, tu, nata in questa via, battezzata con l’aroma della frutta, sai che posando l’orecchio a terra è possibile sentire il tassametro del taxi destino. Non pensare che basti solo alzare la mano in modo deciso e anche un po’ arrogante e dire semplicemente: portatemi in cielo! Sai che qui è avvenuto un crimine, ti hanno detto che è stato un poliziotto grasso e tu hai fatto non so quante diete per la paura che ti credessero simile a quel poliziotto grasso. Ti stai preoccupando, ti sta aiutando il tempo che hai passato nella grotta dei treni a parlare con il ragazzo negro. Quella non è vita. Guardi il cielo e sembra che tu stia guardando un pensiero lontano. La donna con lo sperma sugli occhi crede che avrebbero dovuto portarla da uno psicanalista, prima di ascendere in cielo, rimanere un po’ nel purgatorio delle seduzioni. L’ispettore, volgendo su di lei il suo sguardo paternale, rivela un sorriso aperto a tutti i crimini. Saresti capace, tu, di rivelare i crimini praticati in nome dell’amore, l’amore che lega un corpo all’altro, così come la guerra è la conquista di un territorio, l’amore è una lotta del nostro corpo per conquistare il corpo dell’altro. Mentre discutiamo di amore e di guerra la donna con lo sperma sugli occhi massaggia i piedi del creatore, quando Pietro tornerà dalla pesca i massaggi faranno bene alle sue ossa. Quando Pietro era tornato in cielo a svolgere le sue funzioni di custode, lui e l’ispettore avevano iniziato a passare i pomeriggi a parlare della svaluta del dollaro e dei mille modi di cucinare il baccalà. C’era il baccalà grigliato all’inferno, il baccalà protestante e una ricetta francese che conosceva la donna con lo sperma sugli occhi. A un certo punto un angelo della legione dei furbi aveva detto che ciò che più apprezzava del baccalà erano le ali. Quel giorno il cielo si era sbellicato dalle risate. Il poeta Alexandre aveva deciso di andare a parlare con un prete, per sapere se fosse possibile preparare una messa di commiato. Il prete aveva detto lui che la chiesa non era un rivenditore ambulante. Il poeta Alexandre lo aveva guardato stupito e aveva iniziato a sputare verità, a dire che il Vaticano era pieno d’oro, che il papa viaggiava e che riceveva un incentivo per ogni miracolo che inventava, che la chiesa cattolica era un affare così come fare armi o produrre droga, che i bambini soffrono la fame e che Dio contratta criminali per sorvegliare il cielo, per non parlare dei suoi rappresentanti, una banda di pretarelli asessuati che non sono neppure capaci di celebrare una messa di commiato. Il prete aveva detto lui che avrebbe cercato di fare qualcosa, che lui non era un prete come tutti gli altri e che se il creatore aveva scelto un poliziotto grasso ciò non poteva essere messo in questione, aveva di sicuro le proprie ragioni. Il prete voleva sapere se il poeta Alexandre e i suoi amici conoscessero il padre nostro, il poeta aveva risposto che ognuno conosceva il proprio padre e il prete aveva detto che con il padre nostro più l’IVA in tutto sarebbe costato intorno ai 250 euro. La messa di commiato ebbe luogo nella grotta dei treni. Dopo qualche settimana, il prete che aveva recitato la messa aveva scritto una lettera al cardinale chiedendo di poter rinunciare ai propri voti. Il prete adesso fa l’erborista in un paesino, là dietro il tramonto. Mentre i problemi alle ossa di Pedro il pescatore, guardiano delle porte del cielo e detentore della chiave degli enigmi, iniziano a peggiorare, Dio manda sulla terra uno dei suoi, un essere vestito con l’ologramma della povertà francescana, Pietro intanto prega, nella speranza di qualche medicina che curi il suo dolore. Il prete, che non era un prete, era già da molti anni un santone che curava i mali di persone e animali, una mattina piovosa aveva ricevuto in visita una povera che andava per quei luoghi a pascere le capre e che raccontava di aver visto apparire la vergine dell’olio.

-          Cosa ti ha detto?

-          Mi ha parlato del peccato del grasso, mio signore.

-          E che peccato è mai questo?

-          Mangiare con le mani unte e concepire i figli odorando il grasso durante l’atto.

-          Quanti anni hai?

-          Dodici.

-          Sei sicura di aver capito bene le parole della vergine?

-          Sono un po’ confusa. Quando è nato mio fratello più piccolo, nostro padre puzzava d’olio, forse mio fratello porta in corpo il peccato della carne grassa.

 

Mentre questa parte della storia sta avendo luogo tu fai i tuoi lavori domestici, stiri e mi guardi dormire, sto dormendo profondamente, mi appare in sogno la vergine dell’olio e mi mostra il poliziotto grasso, è più magro ora, lavora in un’osteria e continua a dire parolacce e a ruttare. Tu guardi i miei occhi mentre dormo.

-          Ti sei riposato?

-          Ho fatto dei sogni strani.

-          Strani?

-          Mi è apparsa la vergine dell’olio e un poliziotto grasso che nel sogno era l’assassino di quel crimine avvenuto circa un mese fa.

-          Quel crimine sta tormentando molte persone della via e da quando è morto l’ispettore le cose sono peggiorate. Poveretto! Morire così…

-          Credi che verrà un altro ispettore?

-          Non so.

 

Dopo mi sono alzato, mi sono raso la barba e sono andato a comprare la frutta. La signora Alzira mi ha chiesto se fossi andato alla messa di commiato. Ho risposto di essere rimasto a casa.  Lei mi ha chiesto se credessi nelle anime dell’altro mondo. A dire la verità credo nelle anime di altri mondi e di altri comuni, credo a tutto, ho detto lei. Lei, confondendo la pausa dalla frutta con la pausa delle novità, mi ha raccontato che in chiesa era arrivato un prete nuovo, pare che sarà la perdizione di molte donne, quell’uomo è bello, in tante andranno a confessarsi trovando peccati dappertutto. Poi l’ho salutata e sono tornato a casa per preparare la colazione. Tu avevi finito di stirare, eri presa dal tuo romanzo giallo e poi hai interrotto la lettura. Nella nostra via era tutto calmo, e sembrava che anche in cielo non succedesse niente di nuovo, a parte l’ispettore che con un fazzoletto bianco puliva gli occhi della donna con lo sperma.

-          Signora, io vorrei… bambina, vorrei farle una domanda, quando ero in terra ho investigato, ho cercato di scoprire l’autore del crimine commesso contro di lei, purtroppo non ci sono riuscito, potrebbe almeno rivelarmi una pista.

-          È stato un poliziotto grasso. Risponde lei prontamente.

-          Ma sa che ero arrivato a pensare che fosse stato un certo Garcia. La ringrazio per avermi tolto il peso di questo dubbio. Se mi permette ora la saluto.

Dopo un inchino l’ispettore era tornato al suo posto. Una volta seduto si era acceso un sigaro e si era messo a contemplare una scia di nuvoloni che si attorcigliavano l’uno all’altro. L’ispettore, di quando in quando, era preso da un attacco di tosse secca, il creatore, nella sua comprensione infinita, nonostante molti pensino che sotto la sua lunga barba nasconda il codice penale, consigliava lui di fumare meno e poi aveva chiamato la donna chiedendole che leggesse per lui le notizie che venivano dalla terra, il che era un po’ difficile perché la terra era piena di guerre, cibi immangiabili e altre porcherie che neanche il riciclaggio sarebbe stato capace di sopprimere.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

II.

 

Siamo rimasti fermi, pare che ciò che accade ci stia passando accanto come gli alberi in un viaggio in treno. Siamo arrivati da pochi giorni in questa via, il poco che sappiamo ci è stato raccontato dalla signora Alzira, la donna della frutta.

–        Esco.

–        Dove vai?

–        A bere qualcosa.

–        Avevi promesso che avresti smesso di bere.

–        Bevo un po’ di ambiente, non mi ubriaco, poi porto un film, vuoi venire?

–        Organizzo qualcosa, non fare tardi.

Il bar è pieno di rumori, di corpi sudati, pare che i bicchieri si empiano delle gocce di sudore dei corpi che arrivavano là desiderosi e sconfortati. Chiamo il cameriere, mi sono accorto del sorriso che mi ha fatto alle spalle. Mentre aspetto la birra vado in bagno, sulle pareti sono scritti numeri di telefono, brevi messaggi, un vocabolario per tutti i gusti e grammatiche, da far calare i pantaloni. “Imprenditore del Nord desideroso di sesso con muratore”, “se ti piace il sesso orale e hai più di venti anni…” poi torno al mio posto, ho in tasca due dadi, è un piacere sentirli tra le dita.

–        Vuole qualcos’altro? Domanda il cameriere.

–        No, a posto così, grazie.

Poi si dirige al bancone sculettando, sembra un codice morse di amore omosessuale, un instante dopo, proprio mentre quel posto sta tornando vuoto, mi chiede se può sedersi e, se non mi avrebbe annoiato parlarmi un po’ di lui. Dico ironicamente che se la sua vita fosse un libro e non fosse molto drammatica, solo quanto basta per sconvolgere un po’ la solida e poco variabile struttura delle nostre vite, avrebbe potuto aprirsi totalmente. Inizia a chiedermi se avessi mai sentito parlare della storia della donna che era stata trovata morta con lo sperma sugli occhi. Dico che ho sentito dire qualcosa dalla fruttivendola.

–        La donna che è stata trovata morta era mia sorella.

–        Mi dispiace davvero, ma perché lo sta raccontando a me?

–        Vorrei chiederle di trovare l’assassino.

–        Io non sono un poliziotto.

–        Ma scrive.

–        Scrivo un altro genere di cose.

–        Sì, ma quando scrive svela i dei misteri, non è vero?

–        Certo, ma ho sentito dire che se ne stava occupando un ispettore, penso che sia morto sei mesi fa, più o meno.

–        Era una persona simpatica, purtroppo però il suo fegato…

–        Beveva?

–        Quanto basta, scusi ma a lei non interesserebbe scrivere un giallo.

–        Perché vuole che sia io a scoprire chi ha ucciso sua sorella.

–        Vorrei vendicarmi.

–        Credo di non poterla aiutare, non voglio essere coinvolto.

–        Mia sorella conosceva i miei segreti, aveva il mio cuore, sa, io sono omosessuale. Certe notti mi telefonavano a casa.

–        Telefonare? Chi?

–        Non lo so, dicevano solo, ti scopiamo la sorella, frocio di merda.

–        Guardi, se mi promette di togliersi dalla testa quest’idea della vendetta, inizio a pensare a cosa si potrebbe fare.

–        Grazie.

–        Bene, arrivederci.

–        Quando esce chiuda  bene la porta.

Sono tornato a casa che era già molto tardi, il giorno dopo ho trovato un biglietto spiegazzato sul letto. C’era scritto: “non ne posso più, me ne sono andata, vado a dormire in un hotel, poi telefono.” Sono restato per un istante a guardare nel vuoto, non riuscivo a capire perché si fosse arrabbiata, mi sarebbe piaciuto raccontarle cosa mi era successo la notte prima. Quando ero arrivato, lei stava dormendo profondamente, il gatto che dormiva ai piedi del letto era scattato in piedi, puzzavo così tanto di alcol? Non avevo neanche bevuto molto. Avevo già provato a curarmi, mi piacerebbe che lei capisse che l’alcol mi fa evadere dalla normalità, sì, lo so che questo mio modo di evadere è strano, so che esagero, ma quante volte il mio eccesso nel bere aveva aiutato la trascendenza del mio amore. Non penso per ora a cosa possa fare, pochi istanti dopo bussano alla porta. È la signora Alzira, la fruttivendola.

–        Buongiorno.

–        Buongiorno.

–        Vuole della frutta?

–        Non ne mangio molta. 

publicado por relogiodesacertado às 19:05
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Domingo, 8 de Maio de 2011

A morte da mulher do Dono do hotel

  

Ha um perfume no ar, um perfume pestilento que sai do cano da espingarda. Na sala de espera do hotel está um homem velho, usa uma farda de funcionário dos correios, vem oferecer condolências ao gerente do hotel pela morte da esposa encontrada morta e pendurada como um amolgado coador no sótão do hotel. O gerente do hotel disse que a policia está a investigar, que naquele caso não há um motivo para alguém matar e que existem todos os motivos para se morrer, o motivo de se ter os pés na terra e a cabeça no ar, qualquer razão é boa para morrer mas nem todas são boas para matar. Muitas perguntas eram feitas e sempre aquela pergunta: A quem interessava o crime?! Matou-se por dinheiro, por amor, alguma loucura, a inconsciência cuspida da boca, mata-se porque a profissão de matar é a mesma de qualquer outro trabalho e na cabeça de quem mata é um trabalho limpo, há-de haver uma explicação para esse macabro crime, uma coisa inexplicável. Aqui vive gente de bem, nao sei de quem suspeitar?! Suspeitar do barbeiro que corta os pelos ou afia descuidadamente a navalha na garganta e logo o sujeito não vai cantar mais a canção que denuncia a tristeza . Desculpe se com isto faço poesia, sei que a poesia se suja com esta historia, não é a poesia suspeita deste crime,

 o ciúme acerta mais fundo, penetra com tanta violência como uma bala no crânio de um rinoceronte, na verdade também o rinoceronte pode ser suspeito, tudo o que mexe é suspeito mesmo a folha do nenúfar poisada nas paradas águas.

 

Estava na hora de servir os almoços, o chefe tinha ido á praça comprar um coador, era noticia no lugar que o ar condicionado tinha avariado, um cheiro podre vagueava por ali, a defunta cheirava a peixe de muitos dias e o turismo era afectado. A equipa municipal da higiene publica estava a limpar o ar, um aspirador sugava as pestilências das narinas daquela pobre criatura.

Desculpe perguntar faz muito que eram casados? lembro-me da voz dela, um sotaque carregado, típico da Baviera. nunca estive por lá, vi algumas fotografias, a respeito da comida não sou grande apreciador, prefiro os pratos Franceses e os vinhos. Sei que escreveu aos seus filhos, a sua filha mais nova está numa escola privada, ensina árabe e álgebra, o seu filho alistou-se no exercito, é atirador. Devem ter ficado perturbados Não ficaram perturbados, ficaram frios e imóveis como a linha vermelha de um termómetro. Sim esta juventude já não se perturba, vivem em constante representação. Está a dizer-me que vieram por causa da herança, não há nada para herdar, umas notas magras, uma professora de musica não ganha muito por isso ela se refugiava no jogo, era um prazer, o prazer é uma expressão tremendamente Francesa, os países frios precisam de saboreá-lo com drama. Vejo que está abatido, antes não tinha duvidas, tem agora muitas, imagina que ela tinha amantes no armário, guardava segredos como se escondem ratos numa ratoeira, acha que ela era infiel, que foi morta por causa de um divida de jogo. Não quero meter palavras na sua boca, as palavras são perigosas e sedutoras, uma bomba que faz saltar muitas exclamações, muitos pontos de interrogação como uma etiqueta. É preciso perguntar ao corpo do cadáver como eram as mãos que lhe tocaram, como lhe tocaram, porque lhe tocaram?

Quero que saiba que no caso de precisar de alguma coisa, posso mandar imprimir uns cartões,  uma simples dedicatória eterna saudade e posso ainda encomendar umas flores de plástico e uns óculos três dimensões que fazem parecer as flores muito verdadeiras. Nestas alturas um homem precisa de conforto, uma almofada para descansar a alma nostálgica. Desculpe se roubo o seu tempo, vou regressar aos correios, gosto da humidade do escritório muito agradável neste tempo de calor, há por perto uma videira, costuma trepar pela janela, quando abro a janela parece que me consigo embriagar, uma sensação de regresso ás minhas festas de juventude, ainda tenho fotos, um dia destes mostro-lhe, tenho algumas fotos de família, a minha mulher morreu faz cinco anos, eu pensava que com a solidão tinha morrido o amor, mas agora eu acho que com a solidão se fortalece o amor. Bem espero que tenha um bom dia.

 

Sinto que o Outono é a estação dos apetites, nos dias de Outono fazia amor mais vezes que nas outras estações, gostava de me sentir nostálgico, ficava parado assim que a modos que inerte a olhar os olhos dela como quem fica a olhar o céu. Num dia assim estou a olhar os olhos dela e ela tem os olhos parados, o coração não bate, está morta. Foi uma paragem cardíaca. Depois da morte dela julguei que tinha perdido a vontade de recomeçar, mas nós somos como a videira que trepa á janela e se dá ao sol, todos os dias olho-a da janela e saudo-a em pensamento, acredito que ela é a minha mulher de braços abertos a exclamar que aquele é o seu corpo e o seu sangue. Sei que na cabeça das pessoas deste lugar há a curiosidade sobre o meu interesse a respeito da morte da mulher do dono do hotel. Na verdade sempre gostei de enigmas, costumo decifrar as charadas dos suplementos dos jornais de domingo, escondo-me no gabinete dos correios e passo lá as tardes, levo uma sandes e um termo com refrigerante fresco. Ontem depois de ter estado no gabinete dos correios passou por mim um grupo de soldados a marchar, acho engraçado parecem bonecos articulados, já imaginou a guerra dos bonecos articulados, era um bom titulo para uma peça de teatro. Está a dizer-me que não gosta de teatro, que a voz de certos actores parece como uma faca a penetrar no estômago, tem alergia ao teatro, eu tenho alergia á impaciência, quando estou impaciente aparecem-me borbulhas, sofro deste problema desde criança. Ainda sobre o caso da morte de sua esposa e por ela tocar piano, pois sei que tinha formação clássica, qual era o seu compositor de eleição?! Ela gostava de Wagner, de facto Wagner podia seduzir um assassino para a musica, talvez fosse essa a ultima musica da vida dela e isso depende da crença de cada um, há uma tribo do norte que acredita que depois da morte nascemos em forma de bactéria para entrarmos no corpinho dos doentes e assim curarmos as maleitas dos que cá ficam, imagine nós sermos transformados em bactérias depois da morte e nascermos vamos supor alguma espécie de queijo, um queijo da ilha por exemplo, essas ideias são de facto malucas, coisas de gente selvagem,lugares onde ainda não chegou a civilização, na verdade a civilização não è um bom exemplo, matamos pessoas com malvada delicadeza, quando somos crianças as vacas a pastar no prado è algo romântico, depois quando olhamos para dentro do talho aquilo parece o holocausto, claro que matamos para nos alimentar-mos e matamos para alimentar o ódio sobre o outro, já me vi com muito ódio a esmurrar a almofada, depois dentro de nos fica um vazio, amamos alguém com a mesma intensidade com que sentimos repugnância, estou a dispersar-me, a filosofia toma conta de mim, todo este meu discurso lhe deve parecer incoerente e nao esclarece a morte de sua mulher, não explica porque tinha ela o corpo cheio de buracos tal qual um coador, seria para o assassino filtrar os seus maus instintos?! Deixo a pergunta no ar, hoje faz muito calor, um calor impróprio da época , há um estudo que revela que com o calor os crimes aumentam, o calor provoca tensão, os criminosos gostam de sangue para se refrescarem, ouvi a história que conta que o Marques de Sade se lavava com sangue, tinha uma preferência por cabidela, já provou arroz de cabidela e que tal, bom não é? A minha mulher preparava o melhor arroz de cabidela do universo, vai deliciar as hostes celestiais, era um bom titulo para um filme, os anjos comem arroz de cabidela. Desde que transformaram os cinemas em igrejas deixei de ir, não gosto dos centros comerciais, apanhar com a brutalidade daquele som digital nos tímpanos, na minha idade a audição já não è o que era, o ouvido esquerdo, o ouvido das más  noticias está completamente surdo, mas voltando ao assunto sobre a morte da sua mulher, sabe qual foi o resultado da autopsia? - Está a dizer-me que não foi encontrado um autor para o crime, não encontraram impressões digitais, que uma mão invisivel levantou a espingarda, premiu o gatilho e transformou aquele corpinho num coador manchado de sangue como se fosse polpa de tomate a salpicar os fios de esparguete, ainda a respeito da morte da sua mulher e da natureza desse hediondo crime o mesmo me lembra aquela pintura da Frida, aquela artista mexicana, a mulher de Diego Rivera, um tipo gordo e comunista, estaria mais na natureza dos comunistas serem magros, a magreza seria uma forma de o corpo representar a fome das classes oprimidas pela gordura capitalista, ainda a respeito da Frida kallo há uma pintura dela que podia ilustrar o crime de que foi vitima a pobre de sua Senhora. Estou a pensar vir almoçar aqui, reserve-me uma mesa no jardim, perto do lago, enquanto como gosto de ouvir o som da água, quero saborear um peixe grelhado acompanhado por um bom vinho, por volta da uma estarei por aqui.

 

Naquela tarde veio novamente a policia, era um grupo da policia cientifica que vinha recolher novas amostras de sangue das paredes, aquele sangue parecia como a tinta das pinturas rupestres, sabia-se que o sangue era rhnegativo, o sótão onde o tal crime tinha sido praticado se parecia a um lugar do submundo, havia recortes pessoas torturadas e cenas do mais obsceno teatro, a mulher do dono do hotel tinha tocado em cabarés e até em prisões para confortar os condenados á morte, é possível que nestas horas os pobres fiquem com o gosto musical mais apurado, nestas situações os homens e as mulheres ficam mais perto da condição animal, a cara de um homem é o focinho de um porco. O céu que parecia cinzento reflectido dos olhos dos que são marcados por estes momentos voltava a ficar azul, a vida que trazia a morte era agora a vida que se reconstituía no novo ar marcado pelo poder do nosso trabalho, das nossas convicções, as nossas convicções são como a força dos barcos empurrando a água, mesmo que seja suja, é a nossa vontade que limpa, é o nosso querer que repõe a ordem mesmo quando precisamos da desordem para a sobrevivência do nosso ser. A mulher do dono do hotel tinha um rosário de cento e oito contas, um objecto comprado num antiquário em Viena, um homem ateu mas devoto incondicional do Deus dinheiro. A propósito do Deus dinheiro e do vicio que ela tinha ao jogo, quando a via a passear no jardim girando a sua sombrinha me lembrava a roleta de um casino e pensava que talvez ela transporta-se um numero mágico, parece que era possuída por um numero fatal, há um momento que nos vai cair a desgraça das escadas abaixo por mais azul que o céu se levante acima dos nossos olhos, reparei que ela tinha um andar leve, como será o andar da morte sobre a nossa pele?! Antes do almoço vou desentorpecer as pernas, o meu médico aconselhou que fizesse muitas caminhadas, que evitasse as gorduras, o colesterol é como um assassino em serie, vou provar como já disse um peixe grelhado com um pouco de manteiga por cima, depois vou fazer a sesta, gostaria de me deitar á sombra de uma macieira e sentir o bicho da fruta a andar-me nos olhos, ter a memória povoada de coisas da adolescência, se ainda me apetecer faço aqueles enigmas, este caso da mulher esvaída em sangue e cheia de buracos como um coador é um quebra cabeças que hei-de solucionar. Naquela tarde o funcionário dos correios dormiu um sono pesado, um sono sem sonhos e sem insectos a passear na ponta do nariz, acordou como se o céu tivesse a infância que ele procurava, a madrugada sorria para eles nos olhares que com ele se cruzavam, caminhava em direcção ao hotel, o dono não estava por lá, aos domingos costumava ir pescar, era um exercício de paciência, atirava o que pescava de volta, atirava a impaciência ao rio, se pudesse premia o gatilho e fazia saltar os miolos daquela cabeça impaciente. O funcionário dos correios sentou-se numa mesa  situada no jardim, uma toalha de linho cobria a mesa, lembrou-se quando esteve de férias num pais em guerra e de uma explosão numa praça publica,, a toalha de mesa do café ficou tingida de vermelho, se parecia ao sangue da guelra do peixe, parecia o sangue que jorrava da guelra do mundo. Enquanto saboreava o peixe observava os empregados com os fatos muito vincados, olhava-os e olhava a sua gravata, não tinha muita habilidade a fazer o nó,  habitualmente era a mulher que lhe fazia o nó da gravata. Entretanto chamou o empregado de mesa e pediu a conta, ele e o homem falaram um pouco sobre o caso da mulher do dono do hotel, para o empregado aquele crime parecia coisa dos filmes ou quem sabe de criaturas de outro planeta, talvez ela gostasse de jogar á roleta com os Marcianos, talvez aquele corpinho transformado em coador tivesse sido cometido por um artista contemporâneo, havia um artista germânico que usava carne putrefacta para fazer as suas esculturas. O Funcionário dos correios levantou-se, saiu para a rua e seguiu até ao edifício dos correios, olhou mais uma vez a videira que trepava á janela do seu escritório, parecia a imagem de uma escultura grega, veio-lhe á ideia a imagem de uma escultura putrefacta, a visão clássica do mundo futuro. Por aquela altura lembrava-se ele de ter andado por ali uma companhia de circo ambulante, um dos números em destaque era o do lançador de dardos, havia aquela parte em que o atirador tinha os olhos vendados, a tal companhia estava de novo instalada na praça, a policia tinha um suspeito segundo uma noticia publicada no jornal vendido exclusivamente na drogaria do bairro e que servia para embrulhar a mercadoria, o atirador de facas tinha um caso secreto com a mulher do dono do hotel, nas conversas de rua ironizava-se  que ele tinha treinado a despontaria no corpo dela, que aquele caso era de faca e coador, a policia interrogou o sujeito que á hora do crime disse estar a tomar um banho com muita espuma e que tinha tido com ela um romance sem importância, uma novela pobre como o destino , a policia quis uma amostra do ADN, saber se o sangue encontrado no sótão correspondia ao dele, o atirador mostrou-se disposto a colaborar, no dia seguinte deu corda aos sapatos e nunca mais ninguém soube nada dele, a policia enviou comunicados por toda a parte, mandou patrulhas cercar as estradas e nada de nada, o atirador de facas possivelmente vagueava por algum estranho lugar ou planeta ou outra opção seria andar ele por terras da China com outra cara graças a uma operação plástica na figura de um turista Americano, chegar a ele era como chegar ao sol. O dono do hotel aproveitou ainda a tarde para visitar a filha, levava com ele uma caixa de costura da falecida onde ela guardava botões coloridos, linhas e bocados de tecido de padrões diferentes que ele comprara numa velha retrosaria. A filha tinha uma paixão por aquela caixa, se por um lado se inclinava para o valor material dos objectos por outro ainda salvaguardava o valor sentimental, ainda conservava um certo modo de vida ,romântico. o olhar dela era austero, parecia que dos seus olhos pretos saiam raios, falava monocordicamente. perguntava sobre os negócios do hotel. O Senhor Simões que era assim que se chamava o dono do hotel olhou para o relogio e despediu-se da filha, não queria voltar muito tarde para casa,não gostava de conduzir de noite embora de noite haja o encanto de se verem os coelhos e as raposas, também tinha de estar no hotel para organizar a ementa do hotel, ir ao mercado comprar legumes frescos e dar um salto á lota para encontrar bom peixe. Quando chegou havia um carro da policia estacionado perto Quando chegou havia um carro da policia estacionado perto.  Um agente de oculos escuros e cabelos grisalhos aproximou-se e entregou-lhe um cartão com a morada do posto da policia, estivesse lá quinta feira por volta das duas. Naquela tarde no gabinete do tal agente a conversa andou á volta da suposta relação entre o atirador de facas e a mulher deste e se ele sabia deste falatorio popular, se alguma vez achou estranhou o comportamento da vitima, as pessoas comentavam que a comunicação entre ela e ele era como um pedregulho a cair sobre uma flor, havia quem andasse a espalhar que ela sofria maus tratos, de certo que não se devia acreditar em tudo o que se dizia , tudo devia ser devidamente investigado com rigor, a policia suspeitava que aquele crime tinha sido encomendado mas faltava no puzle uma peça, fazer a ligação entre o dono do hotel, e o atirador de facas, procurar o verdadeiro motivo do crime, alguem usara a expressão facada no matrimonio muito a serio

publicado por relogiodesacertado às 01:32
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Segunda-feira, 27 de Setembro de 2010

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Voltei ao tempo do rio, ao tempo em que o rio se ajoelhava como um imperador inclinado aos teus pés. Ainda tens na tua memória aquela expressão o rio está  á porta, agora os teus olhos parecem rebanhos a pastar na margem das tuas recordações. Abres a caixa de costura e escolhes um botão para pores na tua saia azul. Regressaste da tua viagem à casa dos teus pais. A tua mãe que tinha a profissão de fazedora de bolos agora vende caixas de plástico  da tapawere , a tua mãe é um agente secreto, a tua mãe anda metida no terrorismo das caixas de  plástico, ela anda toda pintada, tem os olhos carregados. Desde que o teu pai morreu que ela carrega na pintura, que foi duas vezes à discoteca e apanhou uma valente bebedeira. Tu ficaste preocupada com ela, querias protege-la como se ela fosse porcelana, imaginaste que uns homens maus, uns marginais iam abusar da tua mãe. Tu não és uma gaja conservadora mas acontece aquela fase em que queremos ser o rei do nosso rei. A tua mãe também usa as calças rasgadas e anda a aprender danças de salão, o seu par é um Argentino de meia idade que depois das aulas convida a tua mãe a beber chá preto enquanto ele saboreia o seu rum com limão e começa a contar-lhe o azar dele com as mulheres, que gostava de levar a tua mãe para a Argentina, que ele era dono de muitas terras mas que gostava de possuir o céu dos olhos dela, ele a dizer isto numa conversa fiada a tua mãe a escutar com muito interesse e a interrompe-lo com um; e depois? Ela a ficar com os olhos arregalados como uma criança que só com os olhos faz derreter um gelado. 

Estás a arrumar o quarto, o quarto acumulou alguma poeira, passas os dedos no chão nos moveis, fazes um traço de poeira e tens um arco íris e tens uma aranha gigante a contemplar o teu arco íris, a comer gulosa essa poeira acumulada nos moveis, nos livros, nas arcas. Pensas em piratas, achas que a tua mãe encontrou um pirata Argentino, que um dia ele a vai empurrar, que ela vai cair no poço ou cair nos braços, se os braços forem de apertar e de dar calor. Mas tu não confias nesse Argentino, mas tu que tropeças-te nas próprias pernas, que acertaste umas coisas e falhaste outras. Se a tua mãe se apaixonar, o bonito, o verdadeiro dessa paixão é não desistir, mesmo que seja engano a água pura continua a ser pura e se ela tem sede mesmo que a água seja imprópria a sede dela e a á gua  que h á nela, a verdadeira intenção não a pode magoar ou perder. Gostavas de ficar sentada junto ao rio, parece que o rio não envelheceu, não lhe encontras uma ruga. Fizeste trinta anos e parece que te sentes com a idade de Abraão. Começas  a sentir vontade de criticar tudo e todos, gritas, perdes a paciência, choras até transbordar e nessas alturas tenho medo de te tocar e ao mesmo tempo não quero ficar indiferente, talvez arranje um pretexto, perguntar-te como vão de saúde os teus bichos da seda. Sei que perguntar isto é um disparate, j á não tens idade para coleccionares bichos da seda, mas isso da idade, sim a idade é mais um peso na balança ou cada qual rouba no peso, seja como for quando estás assim difícil de descrever é melhor não te fazer estremecer. 

O velho Argentino e a tua mãe juntaram os trapos, a tua mãe sabia que ele era um malandro, mas o mundo com as suas guerras, os seus crimes, os seus casos de corrupção também é um malandro e nós sempre acreditamos que o mundo vai mudar, que h á uma parte dele que faz sonhar. Carlos o amante da tua mãe conquistou-a com o perfume das orquídeas, nunca ninguém lhe ofereceu orquídeas assim. Tu foste ao casamento deles, foi um casamento civil, o copo de á guafoi l á na colectividade, foi uma cozinheira velha também Argentina que confeccionou a comida. Tu provaste pela primeira vez comida argentina, conhecias a musica de Piazola, o futebol do Maradona a banca rota, tu j á sabias que aquele amor era pobre, ele tinha uma pequena reforma e algum dinheiro que tinha conseguido no jogo. A tua mãe sabia que o seu D. Quixote era um batoteiro, a tua mãe amava aquele batoteiro, gostava do cheiro a rum das suas roupas. O teu padrasto estava sempre bem disposto, a tua mãe gostava de comparar ele ao teu pai,. Entre vinte anos a ser parte da decoração e agora ser a devoção de um pobre Argentino. Ele gostava dela, Carlos escrevia poemas de pé quebrado, poemas de amor e salsa. Quando ele lia aqueles poemas a tua mãe sentia-os como se fossem os melhores poemas do mundo, ele próprio se gabava deles, que a tua mãe era a única que os compreendia. A tua mãe ficou com ele metade dos anos que esteve com o teu pai. Ele Carlos o batoteiro romântico não conseguiu  fazer batota com a morte. Os últimos meses da vida dele  passou-os a confessar-se á tua mãe como o ladrão arrependido das escrituras. Se a tua mãe tivesse um sorriso tão forte capaz de abrir um buraco na terra, capaz de o trazer de volta á vida.

A tua mãe passa horas a falar dele, agora dorme na sala porque julga que o espirito dele anda a vaguear no quarto, ela também ouve o barulho do baralho de cartas a bater na mesinha de cabeceira. Tu queres levar a tua mãe ao medico, os vizinhos acham que devias levar a tua mãe 
ao centro espírita, que j á houve um caso de um espírito bêbedo que dormia nas escadas, era o espírito de um marido que em vida só conseguia declarasse bêbedo. Tu achas os teus vizinhos umas criaturas malucas embora desejasses  perguntar se era possível comunicar com a alma dos bichos da seda, saber se eles tinham mensagens do alem para ti.  

Tu decidiste não levar a tua mãe ao médico, nem leva-la ao centro espírita. A tua mãe não vai atacar ninguém na rua, a mania da perseguição vai passar-lhe.

 

lobo

publicado por relogiodesacertado às 22:43
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Quinta-feira, 29 de Janeiro de 2009

Nas tuas mãos

As palavras não servem o corpo. Não existem deuses , nem criaturas nuas com as roupas espalhadas no dorso dos cavalos. Não esperes a perfuração da faca nos olhos do tempo, nem tragas gestos demasiado simples para o fogo da espera. Haverá outro caminho, labios cerrados para legitimar a terra, ela e os homens o mesmo cansaço, a mesma lua sobre os telhados, a musica comum do que estão aprendendo a conhecer-se.

 

                                                                                                                                                lobo 09

publicado por relogiodesacertado às 15:41
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