Quarta-feira, 2 de Novembro de 2005
Se eu não soubesse o nome desta cidade bastava-me o cheiro do fumo do café e o sabor do peixe que vem desaguar á tristeza dos meus olhos.
Se eu não soubesse que rio atravessa esta luz, ficaria como um filosofo a contemplar as pedras poisadas como pássaros nas minhas mãos e alguém ficava a saber que é possível morar na solidão construída das casas.
Se eu não soubesse o nome desta cidade, se eu pudesse confundir as árvores imóveis com o andar parado dos vagabundos que são empurrados pelos nossos olhos quando lemos os livros e os jornais antes de nos cansarmos da velocidade industrial da vida.
Se eu não soubesse o nome desta cidade, se ela viesse nua deitar-se nuvem no meu corpo, talvez fosse possível fingir-me de pássaro ilusionista e fazer com ela o profundo amor ilegível das palavras.
Se eu não soubesse o nome desta cidade, bastava-me o cheiro do fumo do café empurrando os navios por essa água de vontade que é a utopia dos homens que não desistem da esperança.
Se eu não soubesse o nome desta cidade, gostaria de ficar dentro de um olhar ausente a namorar a paisagem que resta do silêncio dentro de ti.
Se eu não soubesse o nome desta cidade, ficaria olhando uma lágrima que fosse o mar dos meus olhos.
Se eu não soubesse o nome desta cidade bastava-me o cheiro do fumo do café e o sabor da noite que chega das nuvens que flutuam dentro de mim.
Lobo 2 de Novembro de 2005