Domingo, 30 de Outubro de 2005
A nossa vocação é a palavra. Não é a agricultura, não são os pastos enlameados, não é o ofício das armas, não são os animais bravos. A nossa vocação é a palavra, a criativa e nua palavra apimentada das peixeiras, a palavra arrotada e bruta dos taberneiros e da ralé popular. A nossa vocação, a nossa figura de estilo é fazer politica com o cómico e cinematográfico que a desgraça publica patrocina aos que desejam fazer carreira nas ilustres instituições da nação. Não somos conhecidos no mundo pela arte, somos talvez conhecidos por um homem que era muitos homens, que escrevia o ser português com a incoerência suprema de não saber o que é ser português e isso escrito em poesia causa espanto a qualquer estrangeiro. Mas nós não somos grandes na nossa pintura?! Não temos pomares e Cargaleiros azulejados no gosto empresarial, nós Temos grandes plásticos, grandes senhores do teatro, cantores, apresentadores, encantadores e manipuladores. Somos grandes consumidores de cerveja, consumidores de tremoços, batemos recordes a descascar o tremoço pobre da nossa vidinha cheia de sede. Toda a gente no estrangeiro conhece Camões, há quem pense que era o doutor oftalmologista do velho Adamastor. E os nossos arquitectos, o Taveira criou uma simbiose entre a arquitectura e a pornografia, fazer casas é como dar quecas. Não pensem que isto é dizer mal, nós temos um gajo que se chama Saramago, que ganhou o premio Nobel, que vive numa ilha em Espanha e que nasceu num pais onde há mais analfabetos que galinhas. Nós somos o País com mais tias por metro quadrado. Somos muito doces, muito cheirosos, não nos falta nada e se alguma coisa nos falta no dia em que não nos faltar ficaremos ainda mais pobres, sem espaço para nos coçarmos.
Lobo 05
De Anónimo a 1 de Novembro de 2005 às 11:52
verdade, lobo...somos o país com mais tias e analfabrutos e vamos continuando a ser, nos atrevendo a respirar e a coçar enqto temos metro quadrado para isso...
...e depois, temos as alcateias, onde a palavra adqueire seriedade, volume, conteúdo, clareza, transparência, sentido, mesmo que anarquica surja de onde menos se espera...manifestando a delicia de ter iniciado o feriado a ler os teus textos, os teus poemas, os teus sentidos, quando despertos...Nina
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