Ontem ia eu na minha viagem de autocarro e em cada paragem ouvia o nome de um morto, todas as ruas tem o nome de um morto. Gostava de ouvir soar aos meus ouvidos, a rua da primavera, a rua de maio, a rua do gato. Próxima paragem rua do defunto, próxima paragem rua fernando pessoa, seria mais poetico rua guardador de rebanhos. E continuei a pensar, qualquer dia temos ruas com nomes dos orgãos do corpo, ruas dos rins, rua da bexiga, rua do transplante, rua do desplante. Finalmente o autocarro chegou. Próxima paragem rua da cerveja sem alcool.
lobo 06
Por ti não vou rasgar uma flor
mas terei uma petala nos meus dedos para tocar os teus labios.
Para tocar os teus labios e ver o rio que passa nos teus olhos.
Por ti não vou usar as palavras mas terei um silencio num grão de terra, um pequeno grão absoluto, ameno como a noite sobre os corpos.
Por ti não vou rasgar uma flor
mas terei uma petala nos meus dedos para tocar os teus labios.
Para tocar os teus labios e ver passar o fogo nas tuas mãos.
Tu minha irmã és toda essa natureza.
lobo 06
A senhora dos olhos tristes era uma alma que vertia água
e os velhos pescadores quando abraçavam o mar sentiam que era a senhora dos olhos tristes aquele gemer aquela canção, aquele balançar dos olhos.
A senhora dos olhos tristes soprou no chão e fez aparecer infinitas estrelas e a chuva para ver as criaturas dançar.
A senhora dos olhos tristes
mas o triste talvez fosse apenas a cor.
Fosse como fosse
fosse o vento ou a musica
no silencio do amor a senhora dos olhos brilhantes vai fazer voar os poetas.
Os poetas e os camponezes
os pescadores e os Deuses
olhando os seus olhos adormecem.
A senhora dos olhos tristes
ou a senhora dos olhos brilhantes
ela é o universo que me contempla e eu não sei as palavras que me faltam.
Procuro na terra, procuro no seu corpo e depois
fico a morrer ouvindo a canção da eternidade.
lobo 06
Ao redor do fogo
se pensarmos que o fogo é o nosso Deus eleito, se sobre o fogo depositarmos as nossas orações. O fogo do nosso coração aquecera a rua fria e o homem triste. Ao redor do fogo se pensarmos que o fogo é o nosso Deus feliz depositamos sobre ele as nossas nuvens, as nossas preces, as nossas flores. Ao redor do fogo com a luz da lua... as nossascanções, as nossas mãos, os nossos sorrisos, as noites , os dias.
Ao redor do fogo, se pensarmos que o fogo é o nosso Deus eleito, se sobre o fogo depositarmos as nossas orações, o fogo do nosso coração acalmara os ventos bravos e a raiva dos homens.
Se pensarmos que o fogo é o nosso Deus feliz.
lobo 06
Saudade é isso que magoa é isso que faz os olhos levar a lua. É tão como ter tudo muito mais que o amor mas depois o que faz bem é não ter saudade de ninguem Saudade é isso que magoa é prosa no papel do coração.
É isso que faz os olhos levar a lua.
É Maria a cantar a emoção do amor que começa agora.
Saudade demora o amor e a dor só faz envelhecer e assim te vou esquecer para depois saber que o nosso amor não vai morrer.
lobo
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A noite está deitada no chão
e o vento é o seu homem.
Aconteceu que o vento a fecundou
e ela estrelas na água pariu.
Depois veio a madrugada e entrou nos olhos dos que sonham.
A noite está deitada no chão
e o vento é o seu homem.
E ele murmura-lhe histórias
que ouviu dos lugares por onde passou.
Não sabe se eram verdadeiras mas eram com elas que os homens adormeciam.
A noite está deitada no chão
depois veio a madrugada e era possivel
ve-la dentro de todos os olhos.
lobo 06
Ondes ficas a dormir
depois do medo te assombrar.
Precisas de paz e de pão
mas infelizmente depois daquele chegou outro papão.
Onde ficas a dormir
depois das bombas assassinas
Outros meninos e meninas um dia vão acordar
e saber que esse monstro não vai voltar.
Onde ficas a dormir?
Na tua casa também pode ser primavera
e o vento que soprar nos teus lábios fará canções.
E se todos nós quizermos
mesmo que seja só um gesto
ha-de ser a paz a nossa flor.
Onde ficas a dormir
na tua casa também pode ser primavera
e pode ser agora a paz...
lobo 06
Estás triste, não queres que saibam mas estás mesmo triste. Escondes isso quando escreves no teu diário. Ontem chovia, vi-te a fugir com a música estridente, mudas de roupa dez vezes ao dia e de maquiagem. Pergunto-te se tomas ácidos, parece que não fazem efeito. Estás triste, parece que passas a vida a gritar com a tua mãe. Ontem sonhas-te que o teu pai te segurava na mão, fumas-te com ele um cachimbo de erva, o teu pai não era um indio, apareceu-te somente para te divertir, deve ter sido tudo uma ilusão. Queres escrever uma carta, sei que faço parte da tua imaginação, tu és o amor que eu preciso, preciso de acordar ao teu lado e sentir que os teus olhos um sol muito forte sobre mim. Estás triste, não vais começar a chorar. Porque odeias a tua mãe, porque lhe bates como costumas bater no rádio velho de valvulas, não consegues amar a a tua mãe e a tua mãe julga que tu a estás sempre a matar como se ela quizesse o negócio da tua vida. Vai apanhar ar, não desesperes, desculpa mas pareces uma velha triste, assim vais acabar na ilha dos teus proprios pensamentos. Vai! começa a fugir, não precisas de te comprometer com nada, nem com ninguém. Repete muitas vezes para contigo mesma que não se esgota o calor do teu corpo, o sorriso da tua boca. Ficarmos deprimidos acontece, é assim porque se existe, não podemos fazer que não existimos, mas se começares a dançar, se eu bater duas pedras uma na outra ou se experimentares tocar flauta, assim fogem os ratos. Tenho buracos no queijo do meu subconsciente. Olha-me nos olhos! Gostas de mim? Sabes rir, estás triste mas acredito que sabes rir, se fizeres força consegues rir, és capaz de rir mesmo que estejas a morrer, mesmo depois de morreres. Tens de te importar contigo, põe as mãos na água do mar, há alguem</a> que se interessa por ti, quanto menos atenção prestares á tua pessoa mais o interesse de alguem</a> te puxara a pele. Estás triste e isso tem uma certa compreensão , uma certa musica, aquela afinação existencial. Estás assim e estás de modo algum. Olha-me nos olhos tempo de fugir e céu azul
Numa estrada que fica num despovoado um pássaro brutalmente assassinado por um punhal de flores empunhado por um pastor que regressava de uma longa viagem cansado e triste depois ficou em silencio a ver a água que corria nos seus pensamentos. Numa estrada que fica num despovoado um homem solitário esquartejou a terra para a escutar a gemer como era costume assim fazer a tempestade. Numa estrada que fica num despovoado, um pássaro brutalmente assassinado tombou sobre o sol e fez escurecer o céu. Foi um pastor empunhando um punhal de flores que cravou nele um raio de sangue transparente como a luz.
Numa estrada que fica num despovoado, um pássaro completamente apaixonado tinha a aparencia dos homens, a mesma expressão desiludida, o mesmo vazio nas palavras. continua
. O gato que vê o frio dent...
. Os ratos na toca tem filo...
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. A morte da mulher do Dono...
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