Para a Francesca de Bergamo.
Não sei se há um vento forte
para te empurrar.
Não sei se é possível despertar pássaros
e fazer os poetas voar.
Não tenho mais versos
nem mapas para mostrar caminhos.
Mas tenho esta sensação feliz de te olhar
e ficar sem precisar de mais nada.
Um rio
uma flor e os teus olhos que me olham
como um anjo abandonado na rua.
Não sei se há um vento forte para te empurrar
mas há as canções que oiço de longe.
Um rio
uma flor e os teus olhos
que me olham como um anjo abandonado na rua
lobo 06
Para a Valentina de Palermo
Um ramo de flores
pediria á lua
mas se a lua se esconder
eu lhe trago vinho.
Não sabia dançar
e agora a água dos olhos
me faz flutuar.
Um ramo de flores
e o fumo de incensso
percorrendo a estrada.
Mas se a lua se esconder alguem irá escrever no coração
que mesmo um soldado vai guardar a paz.
lobo 06
para a Vanessa
Um fio de azeite nos olhos sagrados.
As mãos juntas
os olhos fechados
e todas as canções de infancia são uma meditação.
Um fio de azeite
uma gota de água
pão molhado no ovo
flores nos cabelos
guerreiros da terra.
As mãos juntas
os olhos fechados
e todas as canções de infancia são uma meditação.
lobo 06
para a Nina
Tenho o sol a derreter-me nas mãos e nas tuas palavras e nos teus gestos e nos teus livros e nas tuas viagens e no corpo dos homens e no tronco das árvores a tua alma receberá a sombra a tua alma voará.
Limpa as lágrimas ao rosto do vento.
tenho o sol a derreter-me nas mãos
depois alguem entrará em ti pelo caminho do mar.
Limpa as lágrimas ao mundo
aos homens que fazem a guerra
aqueles que sobrepoem a fome á poesia.
E nas tuas palavras e nos teus gestos e nos teus livros e nas tuas viagens e no corpo dos homens e no tronco das árvores a tua alma receberá a sombra a tua alma voará.
lobo 06
para a Lila.
Vamos enganar o tempo e trocar as palavras por flores.
Vamos falar por musica
e dançar como árvores movendo as raízes e andando nas viagens dos ciganos
esses anjos flamengos
Vamos enganar o tempo e voltar a um lugar longe.
Vamos falar por musica e fazer desaparecer solidões
Vamos enganar o tempo e trocar as palavras por flores
lobo 06
Para a Claudia
Misturados na vida
somos as cores e os frutos sem sombra.
Mas o sorriso mesmo assim é doce
porque dentro de ti há uma força contra os abismos
Misturados na multidão
somos os mais solitários e quando somos os mais solitários
somos irmãos da terra.
Misturados na vida
misturados na água e na noite somos uma dor profunda.
Mas o sorriso mesmo assim é doce porque dentro de ti há uma força contra os abismos
lobo 06
para a laura.
Escureceram os olhos
dos pássaros de Milão.
Num sonho que não lembro apertei a tua mão. Sem medo consegui voar e assim não foram precisos pactos para a liberdade dos homens.
Escureceram os olhos dos pássaros do céu de milão e houve um pássaro que veio buscar chuva aos teus olhos para abençoar a intimidade dos quartos e dos jardinns.
Sem medo consegui voar e assim não foram precisos pactos para a liberdade dos homens.
lobo 06
Para belem
Ainda há vinho
e um para águas a voar
os poetas de madrid são
pássaros e a chuva sabe
a uma erva aromática e a uma flor de fumar.
Ainda há vinho
e um pão a repartir pela fome da vida.
Os poetas de madrid são pássaros e a chuva sabe a uma erva arómatica e a uma flor de fumar.
lobo 06
Para a Silvia de roma.
Ainda tens olhos que pintam o coração do mundo. Há tantas guerras e ódios que o deformam que ainda bem que os teus olhos pintam o céu assim a água a terra.
lobo 06
Para a beni
Felini filmou
o sorriso dos sem sorriso
há um sol para os que não tem abrigo.
Vou encontrar-te
e tu terás uma gargalhada
que vai fazer cambalear o mundo.
Olha meu amor
espreita pela janela
aqui corre um filme
assim a lua de roma.
Tu terás uma gargalhada
que vai fazer cambalear o mundo.
lobo 06
Para a Ilenia
Da rua para a tua janela
me declaro mágico e lunar.
Grito como um louco
ou se me olharem como um apaixonado assim não me vão olhar de modo tão estranho
que os loucos e os apaixonados são sempre olhados de modo estranho.
Mas nem os loucos
nem os apaixonados são estranhos.
O que é estranho é não se entender os loucos e os apaixonados.
Da rua para a tua janela
me declaro mágico e lunar
lobo 06
Para a Debora da Sardenha
A tua gargalhada
a tua cerveja
Seja como for a noite vai cair antes de ti
na mesa do café tropical
ou na praça onde ainda costumas ir em sonhos de festa.
Estás ai do outro lado
do atlantico
mas a espuma desse mar não sabe a esta cerveja.
Quando voltares que com bons olhos a vida te veja
com paz, pão e cerveja.
lobo 06
Para a Francesca.
Andas de noite com os olhos
pintados de vinho
e rimel de Paris.
Enquanto a musica toca no teu corpo
talvez o mar vagabundo vestido de azul dance contigo
sem te aperceberes que cansada ficas
num sonho profundo a chorar.
Andas de noite com os olhos pintados de vinho
e rimel de Paris. Enquanto a musica toca no teu corpo desvendas os segredos do silencio.
Talvez o mar vagabundo vestido de azul dance contigo
sem te aperceberes que cansada ficas num sonho profundo a chorar.
lobo 06
Para a Madalena.
Todo o mar que trazes na roupa
e todo o silencio que a terra te dá
sabor de fruta
poesia e uma nuvem
água do chá
imagem da fantazia na criança de todos os homens
e na natureza de todas as almas.
lobo 06
Para a pipa
Na água afoguei o sol
e o sol se tornou peixe
a flutuar no fundo das mãos
dos que dançam e declamam
versos na transparencia do mundo.
lobo 06
Maria alguma forma de mar
mas o rio entra nos olhos
Maria.
Alguma forma de mar
na ponta da lingua dos homens livres
Maria
A poesia é um fogo
ou qualquer palavra faz crepitar.
Maria
alguma forma de mar
mas o rio entra nos olhos Maria
lobo 06
para a Claudia de França
O mar sabe como nós nos sentimos
sabe da nossa armonia e nunca ouviu nem sabe nada da nossa musica.
O mar sabe como nós pensamos
sabe dos nossos poemas e nunca leu os nossos livros
nem conhece os mistérios da nossa fé.
O mar sabe como nós nos sentimos
sabe da nossa armonia e nunca ouviu o nosso corpo tocar outro
nem a terra tremer com a dança dos nossos pés.
O mar sabe como nós pensamos
e no entanto ele sempre está longe
ou somos nós que sentimos que é assim quando ele adormece.
O mar sabe como nós nos sentimos
lobo 06
Para a sara de ponte vedra.
Olho-te nos olhos
para ver chover quando estás triste.
No teu coração já vi pássaros a dormir
palavras que faltavam quando a revolta era mais intenssa que o amor.
Olho-te nos olhos para ver quanto faz frio
mas o coração tem mel quando andas na cidade a guardar a solidão dos homens.
Se eu fosse um poeta
ou soubesse a magia de cada pulsação seguiria a expressão dos dias que vem a seguir.
Olho-te nos olhos
a natureza caminha como se fosse
o vento a seguir em cada aventura
ou em cada musica
que faça voar.
Olho-te nos olhos.
lobo 06
para a eva
Se o sol entrar na janela
e me pedir para dançar
vou vestir minha camisa flanela
vou-me pintar
E depois pego-lhe a mão
e num ritmo flamengo o meu corpo lhe entrego.
Se o sol me entrar na janela
e me pedir para dançar
vou vestir minha camisa flanela
e vou por um som.
Muito rum
muito flamengo
muito camaron.
Se o sol entrar na janela e me pedir para dançar
Vou vestir minha camisa flanela
e por um traço de batom nos teus lábios.
E vou por um som.
Muito rum
muito flamengo
muito camarom.
lobo 06
Para a Paula que morreu de sida e de desprezo.
No prato da sopa eu provo as lágrimas
molho o pão na fome e saboreio esta solidão sem sal
este natal sem iluminação
este amor sem volta.
No prato da sopa
eu provo o caldo frio
mais frio que os olhos dos agarrados
mais amargo que o ódio das mulheres espancadas á porta das igrejas
dessas mulheres cujas lágrimas gelam no rosto
e que um dia os filhos serão assassinos ou poetas ou actores tristes
ou apenas almas esquecidas vagueando nos quartos vazios depois dos pulsos cortados ou das guitarras a soar acordes que não soam bem na vida.
No prato da sopa eu provo as lágrimas e corto o pão no destino dos que morrem antes de tentarem a esperança ou de se comprometerem com o amor.
No prato da sopa passam os turistas e as máquinas fotográficas
que engolem o anonimato dos marginais e dos funcionários publicos.
No prato da sopa passam os turistas e os velhos que pagam para morrer na companhia artificial de uma velha televisão.
No prato da sopa eu olho os teus olhos
mas não consigo cheirar o teu corpo
não consigo amar-te com todo esse veneno.
A morte vai dar-te a mão.
Eu provo o caldo frio, mais frio que os olhos dos agarrados
mais amargo que o ódio das mulheres espancadas á porta dos orfanatos e dos quarteis
que tentam levar uma flor para por nas mãos dos soldados que marcham na linha da frente.
Agora soube que morreste e não consigo ficar triste
que ficar triste é morrer por alguém e sorrir não vai fazer diferença á tua condenação.
Tu não amaste ninguem
ninguem fez um gesto para te amar.
Certas palavras reduziram-se ao efeito de negócio
cada beijo valia uns trocos
cada toque no teu corpo uma desculpa
quando se tinha pressa em sentir o prazer exclusivo do corpo
e o prazer egoista de tudo colher e nada semear.
lobo 06
Temos os olhos caídos sobre o papel frio. Sentimos que as palavras gastam a vida e que não fazem falta para a substancia do amor.
Temos os olhos caídos sobre o papel frio e desesperamos com a sobrecarga de solidão quando estamos na ausência dos outros
Temos os olhos caídos sobre o papel frio. O fogo consome os dias elaborados dos poetas e dos semi Deuses.
Enquanto existirem palavras não será passível a imortalidade.
Temos os olhos caídos sobre o papel frio. Sentimos que as palavras gastam a vida mas o contemplar alimenta o amor.
Temos os olhos caídos sobre o papel frio no entanto algumas palavras são doces como as mãos que se abrem.
Temos os olhos caídos sobre o papel frio. As palavras que escrevemos na água, essas que fazem caminhar o vento nos dedos dos que dançam oferecendo devoção á terra. continua
Um homem de gravata ás riscas, talvez um funcionário do banco. As zebras tem riscas. Elas não tem parentesco com os homens do banco e no entanto os numeros são selvagens e matam e sujam. Um homem de gravata ás riscas, a estrada está pintada de branco e do outro lado da rua há uma prisão e em cada escritório em cada escola, dentro de nós, fora do nosso pensamento, no amor que fazemos e que fingimos. Este corpo é falso, este corpo não é nosso, esta vida serve como um par de sapatos. Queres fugir? Mas que sentido! um fato apertado e sapatos com lustro. A nossa morte vai ter sapatos com lustro. Um homem de gravata ás riscas, um homem poderoso, tão poderoso como um estrondo e tão fraco como merda a sair do cu. Não estamos felizes, aceitamos que parecemos assim para que os outros não apaguem o fogo á nossa volta. Nós temos uma gravata ás riscas, vendemos livros e fazemos um sorriso muito comercial e rimos como uma máquina registadora. A máquina registadora está casada com o funcionário das finanças que tem uma gravata ás riscas e que costuma ver girafas na fila para pagar impostos. É triste esta poesia. Quando dormimos ninguem nos guarda. Nós temos medo. Gritam conosco porque falhamos o exame, porque puzemos a musica demasiado alta, porque a nossa mulher não era a loira do filme e mexia as ancas como uma máquina de escrever. Na verdade nós nunca usamos uma gravata ás riscas, nós bebemos água mineral e aguentamos ouvir o discurso politico durante duas horas e nós bebemos a água mineral e o discurso politico com duas pedras de gelo. Uma gravata ás riscas. A vida é demasiado curta e demasiado banal mas se alguem convencer o ego que se vai tornar a criatura mais feliz por usar uma gravata ás riscas. Se o mundo parar as guerras eu prometo que vou comprar uma gravata ás riscas
lobo
Aqui ou em qualquer parte
os segredos que a terra tem
tudo está guardado e tudo tem a cor como fundamento
o coração dos homens e todos os bichos e pedras
e todas as coisas comuns
iram sobreviver porque alem de belas
são verdadeiras e simples
como a convicção profunda do amor.
Escutamos a musica
em qualquer lugar
qualquer gesto será uma harmonia
a vida comum de cada homem e de cada flor
havera o romance essencial
os olhos fixos e distantes
nada mais será necessario que saber olhar
e assim entrar como uma canção
que entra como a noite pelas portas
quando se tem frio.
E o que importa
alem de tudo aquilo que formos capazes
não vai ser preciso escrever cartas
ou declarações dificeis
perceber que estamos felizes
sem que seja preciso poetas que nos cantem
o vento será capaz de sentir
e quando tu não sentires estarás mais próximo de entender
O amor ou seja o que estiver
para acontecer depois da solidão
o mar vai empurrar os nossos braços
existir é uma força essencial
precisamos de ficar
para que cada toque
cada segredo
cada verdade
de se ser homem e flor
sem engano sem deturpação.
O amor ou a respiração
a nossa vida
o nosso fazer de cada dia
sagrado mistério do nosso trabalho.
os homens, as flores
e tudo o que for além
as palavras ou aquilo que for capaz de surpreender.
Existir é o mistério
fundamental para a compreensão
e não compreender nada
está bem e é uma liberdade.
lobo
São sete horas da madrugada. A Água corre da torneira como as palavras impensadas do mundo. Lavo a cara e limpo ao velho jornal, podia limpar a cara ás folhas dos livros da tia Margarida, mas vou usar para outras necessidades. Vou preparar o pequeno almoço, uma fatia de pão e um copo de leite. O leite é magro como esta nossa pátria pobrezinha e comica. São sete horas da madrugada a noite está a trocar de roupa e está a ficar dia. No mundo está a ficar escuridão, melhor seria a escuridão da intimidade, mas seria bom abrir uma janela, dar um beijo e voar sem bater no chão lobo
Deitado sobre os olhos
o sol , esse pobre vagabundo da terra
também o amor
não tem certas riquezas
e no entanto parece que possuimos o oceano
lobo
Nenhum lugar é um paraíso
nenhum pão pode salvar a tua fome
nem há uma casa que seja o teu completo abrigo.
És tu o lugar para o teu paraíso
és tu o pão para o sentido do alimento da tua vida.
Agora o paraíso existe em cada pensamento, em cada força que tens, em cada intenção que comunicas.
O céu pode ser aquilo que olhas e é aquilo que sentes, aquilo que transformas e que te transforma.
A tua luz, a tua liberdade, a tua solidão e a tua companhia são o importante dentro de ti.
Não importa se está uma porta ou uma janela
importa que estás, que consegues voar.
O céu é dentro de ti e o amor é uma canção que levas em todas as viagens.
lobo
. O gato que vê o frio dent...
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